quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Artigo Interessante Sobre Metodologia do Ensino de Geografia

METODOLOGIAS DE ENSINO UTILIZADAS NAS AULAS DE
GEOGRAFIA
Rejane Vieira
ICH/UFPEL
rejanepm@bol.com.br
INTRODUÇÃO
 Refletir sobre a metodologia empregada na sala de aula, buscando verificar a relação
de  como  o  conteúdo  é  realmente  compreendido  pelos  alunos  se  faz  de  fundamental
importância em nossa vida profissional. Utilizar metodologias de ensino que consigam inserir
os alunos no seu contexto social, através de diálogos abertos, irá tornar o ensino da Geografia
algo produtivo e ligado com os pensamentos e inovações do mundo moderno, o qual nossos
educandos estão inseridos.
Nesse contexto foi feita uma análise sobre os períodos de estágio realizados em duas
escolas diferentes, onde  no ensino fundamental a turma era de aproximadamente 25 alunos
com  idades  bem  variadas,  sendo  a  maioria  adolescentes.  A  escola  possuía  uma  biblioteca,
mapas variados, retroprojetor, sendo que sempre foram disponibilizados quando solicitados.
Nas observações realizadas quando o professor titular estava ministrando o conteúdo, notouse que a maioria dos alunos não dava muita importância para o que estava copiando, sendo
que eram textos enormes retirados diretamente do livro didático. Diante disto e da vontade de
inovar, foram levados novas metodologias e criou-seuma expectativa interessante, onde será
relatado mais adiante. No ensino médio já foi uma turma um pouco maior, sendo em torno de
35  alunos.  Quanto  à  escola  foi  um  pouco  mais  restrita  a  utilização  dos  meios,  pois  esta
funcionava no mesmo espaço físico de outra, uma durante o dia e outra à noite, sendo que os
materiais eram distintos.
 Diante  disto,  entende-se  que  a  esta  busca  por  novas  formas  de  aprendizagem  deve
fazer parte do cotidiano  dos professores.  Quando se chega à sala de aula, principalmente à
noite, encontram-se alunos cansados e sem ânimo para trocarem as experiências vividas com
as que a escola tem a oferecer. Isto tem de ser levado em conta e não se podem levar para as
Acadêmica do curso de Licenciatura Plena em Geografia, da Universidade Federal de
Pelotas.
aulas  textos  longos  e  sem  conexão  com  a  realidade  dos  alunos,  não  se  importando  com  a
beleza  que  podemos  mostrar  através  dos  conteúdos  que  nos  são  sugeridos.  Será  que  os
professores entendem isto? Será que se esforçam para trazerem metodologias interessantes e
dinâmicas que tirem os alunos e eles próprios destaapatia?
COMO ENTENDER ESTE PROCESSO
 Para  aprofundar  o  conhecimento  e  compreender  o  que nos  parece  confuso,  é  que  a
reflexão  e  a  busca  constante  por  aprimoramento  das  aulas  se  tornam  importantes,  pois  o
processo de ensino e aprendizagem é muitas vezes monótono e repetitivo com teorias prontas
e  acabadas.  No  entanto,  esse  espaço  pode  dar  lugar  ao  diálogo  e  à  construção  do
conhecimento em conjunto entre professor e aluno dinamizando e buscando meios novos de
compreender os assuntos serem desenvolvidos.
Neste artigo foi feita uma retrospectiva das aulas ministradas nos estágios, procurando
entender o processo de como tornar o conteúdo mais atrativo para o aluno. Primeiramente foi
feita  uma  análise  bibliográfica  sobre  o  tema,  a  partir  da  obtenção  de  dados  em  livros,  em
jornais e revistas. Após e juntamente com esta foi  realizada a pesquisa nos planos de aula de
ambas as  etapas, onde se observou o tratamento dispensado pela professora a cada um dos
novos  conteúdos  e  como  os  alunos  expressavam  seu  entendimento  e  colaboração  com  a
construção do conhecimento.
DISCUSSÕES SOBRE AS FORMAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM
O professor deve estar consciente da necessidade deestar com suas aulas sempre bem
planejadas.  Este  planejamento  irá  deixá-lo  com  segurança  e  em  condições  de  debater  com
seus alunos sobre o conteúdo desenvolvido buscando  um engajamento de todos na busca do
conhecimento. Este entrosamento de idéias irá formar conceitos, os quais sendo construídos
em  conjunto  serão  fixados  e  entendidos  de  forma  mais  simples,  não  necessitando  de
decorebas e de infindáveis questionários tão solicitados pelos alunos. No ensino fundamental,
ao ser relatado a forma de avaliação, a qual seria  através de diálogos participativos sobre o
conteúdo  com  pequenas  produções  textuais  e  uma  prova,  onde  deveriam  colocar  o  seu
entendimento  sobre  as  questões,  estes  ficaram  apavorados  e  solicitando  questionários  para
estudarem.  Desta  forma,  nota-se  a  reprodução  de  uma escola  que  não  ensina  seu  aluno  a
pensar  criticamente sobre o que lhe é apresentado.  Como Freire (1975)  deixa claro em sua
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obra esta relação da escola com o conteúdo somente serve para encher nossos alunos de idéias
prontas, as quais não os levarão a pensarem o que realmente está implícito nas entrelinhas:
O importante, do ponto de vista de uma educação libertadora, não “bancária”, é que
em qualquer dos casos, os homens se sintam sujeitosde seu pensar, discutindo o seu
pensar,  sua  própria  visão  do  mundo,  manifestada  implícita  ou  explicitamente,  nas
suas sugestões e nas de seus companheiros. (FREIRE,1975, p.141).
Portanto, a prática consciente do professor que planeja que demonstra ser interessado e
que valoriza as informações de seus alunos irá criar um ambiente de respeito e aprendizagem
recíproco,  pois  estamos  sempre  em  constante  aprimoramento  intelectual.  Esta  relação  entre
alunos e professores deve ser o mais natural possível, estabelecendo-se diálogos abertos, onde
a aproximação de seus problemas é que irá deixar nele a vontade de aprender e compartilhar
com os demais suas experiências. Fazer com que nossos alunos reflitam sobre o que acontece
ao seu redor e no mundo os levará a um crescimento individual, tornando-os cidadãos críticos
e defensores de suas próprias idéias. Mas para que  isso aconteça é necessário os educadores
estarem  conscientes  de  seus  atos  e  obrigações,  sabendo  que  não  devem  deixar  transparecer
sinais de desmotivação, o que acaba gerando uma apatia geral ocorrida na maioria das escolas
públicas.
Observamos  o  que  dizem  alguns  alunos  em  uma  entrevista  realizada  pela  Revista
Nova Escola
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:  “Às vezes, vir à aula da raiva porque tem muita gente que não quer saber de
nada – inclusive os professores que faltam.”  Outro: “Não tem nada pior que chegar numa
segunda-feira e ver o quadro cheio – só para fazer  cópia.”Como os alunos deixaram claro
em suas críticas o desinteresse é geral; muitos vãoà escola para aprenderem algo que possa
lhes ajudar em seu futuro e acabam encontrando professores cansados, pois alguns enfrentam
longas jornadas de trabalho, os quais deixam transparecer em suas aulas a desmotivação ou
algumas vezes a falta de planejamento, tão importante para uma boa aprendizagem.
A  EDUCAÇÃO  E  AS  CONSEQÜÊNCIAS  DO  MODO  DE  PRODUÇÃO
CAPITALISTA
Observando a história da educação, nota-se que a Instituição Escolar já foi bem mais
rígida em seu passado; neutralizar as diferenças tentando levar a adaptação e a submissão dos
alunos  era  comum.  Métodos  que  permitissem  o controle  do  corpo,  levando-o  a  sujeição  de
suas  forças,  impondo-lhes  uma  relação  de  docilidade,  de  não  reação  às  normas  levavam  o
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Revista Nova Escola de março de 2007((Pg 31 e 34).
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educando  a  realização  da  passagem  de  ano,  a  qual  ficava  trancada  sem  poder  ser  exposta.
Segundo Michel Foucault:
Isto leva a uma submissão do ser, onde o poder se mantém através da coercitividade,
levando o sujeito a obedecer sem o poder da crítica, de outras opiniões, sendo assim
um “boneco de presépio” nas mãos dos detentores do poder. (FOUCAULT, 1987, p.
118).
 Desta forma se observa que a repressão utilizada no passado não trazia benefícios aos
alunos, onde o respeito era imposto através de ordens e do medo na escola. Uma relação de
angústias, em um lugar tido como impróprio para debater sobre seus anseios pessoais, suas
divagações  sobre  a  sociedade/humanidade,  mas  com  um caráter  formal,  onde  dali  sairia
grandes  pensadores,  talvez  não  tão  críticos  como  o  pudessem  ser,  mas  com  um  grande
conhecimento  técnico  daquilo  que  aprendiam.  Valores políticos,  ética,  humildade,  dentre
outros seriam adquiridos no decorrer de suas vidas e não na escola.
 Hoje em dia a percepção de que deve haver um diálogo mais aberto na sala de aula,
onde todos possuam voz ativa para exporem suas opiniões e anseios é preponderante. Uma
aula onde somente o professor dita as regras e as impõe sem ao menos escutar a opinião dos
alunos  deve  deixar  de  fazer  parte  do  cotidiano  escolar.  Quando  este  tipo  de  metodologia  é
utilizado,  notam-se  a  indisciplina  e  a  violência  de alguns  alunos  que  não  aceitam  tal
procedimento, causando transtornos ainda maiores, onde com uma simples conversa talvez,
pudesse se resolver o problema.
Todavia, deve se analisar a época em que vivemos, onde o capitalismo exacerbado leva
todos  a  uma  luta  constante  em  busca  de  sobrevivência,  principalmente  os  pertencentes  às
camadas menos favorecidas da sociedade. Essa batalha entre capital e trabalho gira em torno
dos meios de produção, sendo que a grande maioria de seus detentores não está preocupada
com a educação destes filhos da pobreza, pois para  eles o que importa é o lucro e o poder.
Desta  forma  muitas  pessoas  acabam  ficando  à  margem  desta  sociedade,  sem  condições  de
estudar e adquirir uma melhor condição de resistir  a esta opressão, o que leva seus filhos a
não darem a devida importância aos estudos. Valorescomo: o respeito ao próximo, a zelar
pelo patrimônio público, a sempre se utilizar da verdade, a repartir aquilo que possui, dentre
tantos outros acabam ficando a cargo da escola, a qual muitas vezes não consegue dar conta
de todos.
Assim, observamos que os conflitos vividos na sociedade são refletidos diretamente no
ambiente  escolar.  Os  professores  devem  se  dar  conta de  suas  atribuições  e  procurar
utilizarem-se desta influência de forma a fazerem seus alunos entenderem as conseqüências
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que este modo de vida capitalista trás a cada um deles. Somos responsáveis pela transmissão
do saber, pela conservação dos valores sociais, pela manutenção e atualização dos princípios e
leis  que  regem  a  sociedade.  Algumas  vezes,  consciente  ou  inconscientemente  acaba-se
exercendo uma função conservadora e reacionária, não apenas pelo repasse do passado, mas
por  torná-lo  estático  e  algo  determinante  do  presente  e  do  futuro,  transformando  o  ato  de
educar em algo sem sentido para uma sociedade que deve aprender a lutar por seus direitos.
Nesta perspectiva, devemos refletir sobre o que Frigotto
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( 2001) diz:
... a prática educativa que se efetiva na escola é  alvo de uma disputa de interesses
antagônicos.  Sua  especificidade  política  consiste,  exatamente,  na  articulação  do
saber  produzido,  elaborado,  sistematizado  e  historicamente  acumulado,  com  os
interesses de classe. ( FRIGOTTO, 2001 p. 33).
Desta forma esta reprodução de conteúdos prontos que não aceitam as interferências e
análises  dos  alunos  continuam  a  produzir  pessoas  incapazes  de  refletirem  sobre  as
conseqüências  que  o  sistema  neoliberal  causa,  levando-os  a  submissão  dos  detentores  do
poder. O educador deve ter em mente que é preciso repensar a educação enquanto inserida no
processo de transformação do saber. Entender que o  significado da palavra educar deve ser a
capacidade de saber interpretar e transformar o mundo em que se vive, onde neste processo de
transformação inclui transformar a si próprio. Portanto, lutar por uma educação libertadora,
formando pessoas com senso crítico, capazes de mudar as relações dentro e fora da escola,
através de novas práticas democráticas, coerentes com a realidade é a base para um progresso
legítimo e eficaz. Segundo Freire:
A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação
não  pode  fundar-se  numa  compreensão  dos  homens  como “seres  vazios”  a  quem  o
mundo  “encha”  de  conteúdos;  não  pode  basear-se  numa consciência  espacializada,
mecanicistamente compartimentada, mas nos homens como “corpos conscientes” e na
consciência como consciência intencionada ao mundo.Não pode ser a do depósito de
conteúdos,  mas  a  da  problematização  dos  homens  em  suas  relações  com  o  mundo.
(FREIRE, 1975, p. 77).
O ENSINO DA GEOGRAFIA
A  Geografia  é  uma  ciência  rica  em  seu  conteúdo,  sendo  o  espaço  geográfico  seu
campo de abrangência.  Assim, cabe aos  educadores aprimorarem suas  formas de ensinar, a
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 Gaudêncio  Frigotto  em  sua  obra  “A  produtividade  da  escola  improdutiva”  faz  um  re-exame  das
relações entre educação e estrutura econômico-social capitalista, utilizando-se da teoria do capital humano, tendo
como eixo de análise e apreensão das relações entreos processos econômicos-sociais e os processos educativos
num contexto em que a crise atual do capitalismo mundial já apresentava fortes indícios nos anos 70.
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fim de satisfazer os anseios dos alunos, pois em muitos casos somente levam textos enormes,
os quais têm pouco haver com a realidade cotidiana  destes, não exercendo suas capacidades
de reflexão. A busca por metodologias que consigam  levar o conteúdo ao aluno de maneira
mais  compreensível,  seja  através  do  livro  didático, o  qual  é  um  importante  apoio,  não
devendo  ser  o  único  meio,  ou  através  de  outras  tecnologias  e  criatividades  é  que  irá
diferenciar um educador de qualidade.
 Observando-se  a  prática  pedagógica  de  alguns  professores,  nota-se  o  fiel
cumprimento  aos  conteúdos  dos  livros  didáticos,  os  quais  discorrem  sobre  determinado
assunto e dali se determinam questões que são respondidas diretamente dos textos, onde não
dá  a  chance  do  aluno  expressar  sua  opinião.  Embora  estes  livros  tragam  conteúdos  bem
dispostos  e  abrangentes,  cabe  ao  professor  associá-los  ao  dia  a  dia  dos  alunos  e  levá-los  a
pensar sobre o que realmente faz a diferença na hora de  aplicar o conhecimento adquirido.
Desta  forma,  a  Geografia  ensinada  será  mais  interessante,  ficando  o  educador  com  a
responsabilidade  de  levar  à  sala  de  aula  maneiras  diversificadas  de  apresentação  destes
conteúdos  o  que  levará  a  um  processo  de  motivação  da  turma.  Relacionado  e  isso  Kimura
fala:
... a Geografia constitui-se em um campo fértil de  oportunidades para experimentar
de maneira muito rica e estimulante várias habilidades e, desta forma, possibilitar ao
aluno  desenvolver  competências  criativas  de  percepção  e  cognição  a  serem
incorporadas ao seu crescimento. (KIMURA, 2001, p. 26).
 Alguns professores mencionam falta de motivação dos alunos, mesmo quando levadas
técnicas diferenciadas de aprendizagem. Daí percebe-se a importância do educador. Ele é o
elo entre o conteúdo e a aprendizagem; sua maneira de explicar, de incentivar os alunos é que
irá  determinar  o  sucesso  da  aula.  Os  conceitos  que  se  formam  através  da  participação  dos
integrantes  da  turma  serão  absorvidos  de  forma  subjetiva  por  cada  um,  onde  uma  seleção
íntima do que é mais importante será captado e se formará a própria opinião sobre o assunto.
Desta forma, as aulas terão um sentido mais real diminuindo a falta de interesse pelo conteúdo
abrangido, tornando-a algo aprazível e motivador denovas descobertas.
EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS
 Baseada  na  experiência  como  professora  na  adolescência,  onde  foram  ministradas
aulas nas séries iniciais, 2ª e 4ª séries, pode se  fazer uma comparação entre este período e os
estágios  realizados  na  etapa  acadêmica.  A  primeira  fase  caracterizou-se  por  uma  prática
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docente na qual foram encontradas muitas dificuldades, entre elas: insegurança, caracterizada
pela  falta  de  embasamento  teórico  e  prático,  alunos indisciplinados,  conversas  constantes,
onde não havia um apoio pedagógico da escola.
Na  fase  acadêmica,  ao  poder  novamente  estabelecer  contato  com  a  sala  de  aula  nos
estágios,  constatou-se  que  o  aprimoramento  teórico, bem  como  o  apoio  dos  professores  e
colegas  é  fundamental  para  estabelecer  um  nível  de  confiabilidade  no  potencial  que
possuímos.  A  consciência  de  nossa  responsabilidade  como  educadores  deve  estar  muito
presente  em  nosso  cotidiano,  onde  não  devemos  nos  deixar  levar  pela  desmotivação  que
assombra determinadas escolas. Compreender a diversidade de idéias e entender que cada um
de  teus  alunos  possui  uma  vida  própria  e  conseqüentemente  um  objetivo  diferente  é  nossa
obrigação. Não é nada fácil, ou quase impossível conseguir atingir a todos em uma sala de
aula, geralmente com 30/40 alunos, mas levar o conteúdo de forma mais aprazível e instigante
deve ser nossa meta.
 Foram realizados dois estágios no período noturno,onde as características geralmente
são  de  alunos  trabalhadores  ou  aqueles  que  cuidam  da  casa  e  dos  irmãos  para  os  pais
trabalharem.  Notou-se  que  estavam  acostumados  a  receber  o  conteúdo  sempre  pronto,
geralmente com grandes questionários para estudareme decorarem para as provas. Porém, a
proposta levada à sala de aula era a de introduzir um processo dialógico, com conversas sobre
o conteúdo associado ao cotidiano deles, induzindo-os assim a pensarem criticamente sobre
aquilo que lhes era informado. Este objetivo estavapresente em todas as aulas: a participação
ativa nas atividades propostas. Expor suas opiniõesera muito importante e eram instigados
constantemente para isso, onde saiam reflexões que condiziam com a realidade e com o sonho
de mudança de alguns. Com referência ao diálogo na sala de aula, Freire diz:
Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa,
é educado, em diálogo com o educando, que ao ser educado, também educa. Ambos,
assim,  se  tornam  sujeitos  do  processo  em  que  crescem  juntos  e  em  que  os
“argumentos de autoridade” já não valem. (FREIRE, 1983, p. 68).
Este  processo  dialógico  é  muito  interessante.  Durante  a  aprendizagem  acadêmica
observei  que  a  maioria  dos  professores  instiga  esta capacidade  dos  alunos.  Claro  que  é
diferente  porque  na  academia  somos  adultos  enquanto que  na  escola  geralmente  são
adolescentes em fase de exploração, onde o debate fica mais restrito a opiniões próprias, sem
muito  embasamento  teórico.  Neste  ponto,  nota-se  que a  educação  é  uma  atividade  onde
professores  e  alunos,  mediatizados  pela  realidade  da  qual  fazem  parte  e  de  onde  retiram  o
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conteúdo  de  sua  aprendizagem  atinjam  um  nível  de  consciência  desta  mesma  realidade,
transformando-a socialmente.
Observou-se entre os alunos que há muitas diferenças, principalmente na capacidade
de dialogar. Havia adolescentes, mais comunicativose pessoas de mais idade, as quais tinham
de ser muito instigadas a interagir sobre o assuntodebatido, caso contrário não participavam
do  diálogo.  Percebeu-se  que  ao  serem  estimulados,  idéias  próprias  apareciam,  onde  a
construção do conhecimento realmente se fez presente, tirando aquela mesmice de repetir o
que  os  autores  escrevem  sem  uma  posição  definida.  Alguns  estavam  presentes  somente  de
corpo,  mas  sem  intenção  de  aprender  algo  de  novo,  deixando  claro  que  não  queriam
participar,  apresentando  em  determinados  momentos  atitudes  indisciplinadas.  Nestas
circunstâncias  era  dada  uma  pausa  no  conteúdo,  demonstrando  a  autoridade  do  professor
como meio de mostrar os valores e as reais necessidades do processo de ensino aprendizagem
que todos estavam passando no momento. Não de formaautoritária, mas de modo a fazê-los
ver além da suas próprias perspectivas individuais,onde respeito ao próximo era colocado em
pauta  e  o  desejo  de  estar  na  escola  para  aprender  algo  deveria  ser  considerado  por  todos,
inclusive  por  quem  não  estivesse  com  vontade  de  fazê-lo.  Nesta  linha  de  pensamento
D’Antola diz:
A  autoridade  deve  ser  usada  para  dirigir  a  classe,  pois,  quanto  mais  confiança  os
alunos tiverem no professor, enquanto autoridade que dirige o curso produtivo, que
pode manter a disciplina, que tem bom domínio de conhecimento, mais confiança os
alunos terão nas intervenções do professor, o qual  deve utilizar a autoridade dentro
dos limites da democracia. (D’ANTOLA, 1989, p. 53).
 Em relação ao ensino médio a prática foi mais curta. A turma contava com trinta e
cinco alunos presentes. De início estes tiveram alguma rejeição devido ao afeto à professora
regente, mas quando o estágio terminou, a maioria queria que as estagiárias continuassem a
frente da disciplina. Tentou-se construir uma prática educativa que superasse as mazelas do
ensino  tradicional,  este  que  até  os  dias  atuais  ainda  é  tão  utilizado.  Assim,  nosso  objetivo
principal era de possibilitar um trabalho mais significativo e transformador na sala de aula,
fazendo  com  que  nossos  alunos  se  tornassem  sujeitos que  percebem  as  modificações  que
ocorrem na sociedade onde vivem, buscando a sua transformação.
 Iniciou-se  as  aulas  com  a  proposta  de  se  fazer  uma atividade  diária  valendo  nota,
sendo geralmente uma reflexão sobre o conteúdo estudado. Observou-se que poucos sabiam
se  expressar  através  da  escrita;  tinham  muitos  erros  de  português,  o  conteúdo  não  se
desenvolvia,  onde  quase  sempre  saiam  poucas  linhas  com  algo  que  a  professora  havia
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informado.  No  final,  valeu  a  pena  porque  textos  mais  críticos  e  com  opiniões  próprias
começaram  a  se  desenvolver,  sendo  que  como  foram  poucas  aulas  o  progresso  foi
interrompido, já que a professora regente não adotava tal prática metodológica.
 Uma  maquete  sobre  os  diferentes  tipos  de  rochas  foi  levada  à  sala  de  aula.  A
expectativa  era  de  conseguir  desenvolver  no  aluno,  a  capacidade  de  observar,  analisar,
interpretar e pensar  criticamente  a realidade, tendo em vista a sua transformação,  a qual se
vincula nas relações da sociedade com o meio ambiente. Foi um pouco decepcionante, pois a
motivação  que  pensamos  existir  quando  olhassem  para a  maquete  não  ocorreu.  Alguns
observam com desinteresse, tocaram no gel do qual parte era composta e fizeram cara feia.
Esta desmotivação dos próprios alunos também nos faz refletir sobre os motivos que
os levam a tais atitudes de desinteresse. Talvez pela idade, os adolescentes, onde a paquera, as
roupas da moda e assuntos que rolam na internet sãobem mais atrativos que os conteúdos de
Geografia. O professor deve estar ciente que estes temas fazem parte do cotidiano dos alunos
devendo  tentar  se  entrosar  e  debater  sobre  eles  o  que  irá  causar  um  sentimento  de
cumplicidade.  Desta  forma  conseguirá  unir  os  interesses  dos  alunos  com  o  conteúdo  a  ser
desenvolvido  de  modo  a  tornar  o  processo  de  aprendizagem  mais  interessante.  Conforme
Bandiera argumenta em sua obra:
Quando a criança encontra alguma dificuldade para alcançar ou para aprender um
conhecimento  novo,  cabe  ao  professor  no  caso  especifico  da  escola,  providenciar
estímulos  que  auxiliem  a  criança  a  superar  a  dificuldade  encontrada.  Melhor
dizendo,  professor  e  aluno,  juntos,  tentarão  buscar as  soluções  almejadas  para  a
aprendizagem. Ao professor cabe tornar o processo de construção do conhecimento
contextualizado. A criança deve estar interessada em aprender o novo, isto porque
lhe  trará  satisfação,  novo  modo  de  ver  e  de  conceber  o  mundo  e  os  seres  que  o
cercam.  A  aprendizagem  construída  com  a  interação  professor-aluno  deve  ser
significativa para o aluno, a partir dos seus interesses. (BANDIERA, 2005, p. 28).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inovar  a  Geografia  é  torná-la  interessante  e  crítica,  pois  instiga  a  curiosidade  dos
alunos  e  une  assuntos  que  nos  livros  didáticos  parecem  não  ter  conexão.  De  forma  mais
especifica, pode-se dizer que além de uma renovaçãono modo de ensinar, a construção do
conhecimento  através  de  metodologias  variadas  é  uma atividade  que  aproxima  o  aluno  da
realidade que o cerca. Constatou-se que a prática docente precisa sofrer estas modificações,
pois a escola e os conteúdos trabalhados parecem não ter relação com a vida dos alunos, não
havendo uma associação entre ambas.
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 Para  que  isso  aconteça  é  necessário  o  planejamento do  professor,  pois  com  tudo
estrategicamente planejado, embora algumas vezes tendo que modificar o plano facilita muito
o  processo  de  ensino  aprendizagem.  A  flexibilidade  deve  fazer  parte  de  trabalho,  onde  se
observa  que  os  alunos  possuem  ritmos  diferentes  e  isso  precisa  ser  respeitado,  assim,  é
fundamental uma constante avaliação deste planejamento, bem como sua readequação se for
necessário.  Também  a  utilização  dos  recursos  didáticos  disponíveis  e  adequados  ao  tema
estudado,  como  transparências,  slides,  vídeos,  jornais,  fotografias,  dentre  outros  deve  ser
muito explorado.
Observa-se que o professor é o elo entre o ensino ea aprendizagem, portanto este deve
estar sempre procurando maneiras de ampliar as formas de ministrar o conteúdo. Dependendo
da  metodologia  de  ensino  que  ele  utilizará  poderá  proporcionar  aulas  criativas  e  dinâmicas
que exerçam um poder de atração e não de repulsão como geralmente os alunos enxergam a
maioria dos conteúdos de Geografia. O educador deveestar constantemente repensando a sua
prática,  pois  estará  contribuindo  na  formação  de  cidadãos  mais  conscientes  que  deverão
encontrar no ensino a base para saber pensar o espaço geográfico.
 Portanto, a experiência como educadora foi fundamental. A prática proporcionou uma
aproximação  da  realidade  do  cotidiano  do  professor  e  o  entendimento  que  ensinar  não  é
somente  transmitir  conteúdos  e  sim  uma  troca  de  conhecimentos  que  exige  ética,
cumplicidade, bom senso e muita pesquisa. Esta busca por uma educação que seja capaz de
transformar o momento do aprendizado em algo significativo para o crescimento intelectual e
pessoal dos alunos  e do próprio educador é que leva à Escola a ser um local infinitamente
valoroso. Ela proporciona momentos de transformação do pensamento o que acaba levando-nos a ser pessoas que sejam capazes de atuar como agentes transformadores da desigualdade
social e da opressão que sofremos pelas classes dominantes em nossa sociedade.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Paulo); nr 200, p. 28-47, 2007.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.
FLEURI,  Reinaldo  Matias.  Educar  para  quê?  Contra  o  autoritarismo  da  relação
pedagógica na escola. 9 ed. São Paulo: Cortez, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 13ª ed. - Coleção O Mundo Hoje. Rio de Janeiro:
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