METODOLOGIAS DE ENSINO UTILIZADAS NAS AULAS DE
GEOGRAFIA
Rejane Vieira
ICH/UFPELrejanepm@bol.com.br
INTRODUÇÃO
Refletir sobre a metodologia empregada na sala de aula, buscando verificar a relaçãode como o conteúdo é realmente compreendido pelos alunos se faz de fundamental
importância em nossa vida profissional. Utilizar metodologias de ensino que consigam inserir
os alunos no seu contexto social, através de diálogos abertos, irá tornar o ensino da Geografia
algo produtivo e ligado com os pensamentos e inovações do mundo moderno, o qual nossos
educandos estão inseridos.
Nesse contexto foi feita uma análise sobre os períodos de estágio realizados em duas
escolas diferentes, onde no ensino fundamental a turma era de aproximadamente 25 alunos
com idades bem variadas, sendo a maioria adolescentes. A escola possuía uma biblioteca,
mapas variados, retroprojetor, sendo que sempre foram disponibilizados quando solicitados.
Nas observações realizadas quando o professor titular estava ministrando o conteúdo, notouse que a maioria dos alunos não dava muita importância para o que estava copiando, sendo
que eram textos enormes retirados diretamente do livro didático. Diante disto e da vontade de
inovar, foram levados novas metodologias e criou-seuma expectativa interessante, onde será
relatado mais adiante. No ensino médio já foi uma turma um pouco maior, sendo em torno de
35 alunos. Quanto à escola foi um pouco mais restrita a utilização dos meios, pois esta
funcionava no mesmo espaço físico de outra, uma durante o dia e outra à noite, sendo que os
materiais eram distintos.
Diante disto, entende-se que a esta busca por novas formas de aprendizagem deve
fazer parte do cotidiano dos professores. Quando se chega à sala de aula, principalmente à
noite, encontram-se alunos cansados e sem ânimo para trocarem as experiências vividas com
as que a escola tem a oferecer. Isto tem de ser levado em conta e não se podem levar para as
Acadêmica do curso de Licenciatura Plena em Geografia, da Universidade Federal de
Pelotas.
aulas textos longos e sem conexão com a realidade dos alunos, não se importando com a
beleza que podemos mostrar através dos conteúdos que nos são sugeridos. Será que os
professores entendem isto? Será que se esforçam para trazerem metodologias interessantes e
dinâmicas que tirem os alunos e eles próprios destaapatia?
COMO ENTENDER ESTE PROCESSO
Para aprofundar o conhecimento e compreender o que nos parece confuso, é que a
reflexão e a busca constante por aprimoramento das aulas se tornam importantes, pois o
processo de ensino e aprendizagem é muitas vezes monótono e repetitivo com teorias prontas
e acabadas. No entanto, esse espaço pode dar lugar ao diálogo e à construção do
conhecimento em conjunto entre professor e aluno dinamizando e buscando meios novos de
compreender os assuntos serem desenvolvidos.
Neste artigo foi feita uma retrospectiva das aulas ministradas nos estágios, procurando
entender o processo de como tornar o conteúdo mais atrativo para o aluno. Primeiramente foi
feita uma análise bibliográfica sobre o tema, a partir da obtenção de dados em livros, em
jornais e revistas. Após e juntamente com esta foi realizada a pesquisa nos planos de aula de
ambas as etapas, onde se observou o tratamento dispensado pela professora a cada um dos
novos conteúdos e como os alunos expressavam seu entendimento e colaboração com a
construção do conhecimento.
DISCUSSÕES SOBRE AS FORMAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM
O professor deve estar consciente da necessidade deestar com suas aulas sempre bem
planejadas. Este planejamento irá deixá-lo com segurança e em condições de debater com
seus alunos sobre o conteúdo desenvolvido buscando um engajamento de todos na busca do
conhecimento. Este entrosamento de idéias irá formar conceitos, os quais sendo construídos
em conjunto serão fixados e entendidos de forma mais simples, não necessitando de
decorebas e de infindáveis questionários tão solicitados pelos alunos. No ensino fundamental,
ao ser relatado a forma de avaliação, a qual seria através de diálogos participativos sobre o
conteúdo com pequenas produções textuais e uma prova, onde deveriam colocar o seu
entendimento sobre as questões, estes ficaram apavorados e solicitando questionários para
estudarem. Desta forma, nota-se a reprodução de uma escola que não ensina seu aluno a
pensar criticamente sobre o que lhe é apresentado. Como Freire (1975) deixa claro em sua
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obra esta relação da escola com o conteúdo somente serve para encher nossos alunos de idéias
prontas, as quais não os levarão a pensarem o que realmente está implícito nas entrelinhas:
O importante, do ponto de vista de uma educação libertadora, não “bancária”, é que
em qualquer dos casos, os homens se sintam sujeitosde seu pensar, discutindo o seu
pensar, sua própria visão do mundo, manifestada implícita ou explicitamente, nas
suas sugestões e nas de seus companheiros. (FREIRE,1975, p.141).
Portanto, a prática consciente do professor que planeja que demonstra ser interessado e
que valoriza as informações de seus alunos irá criar um ambiente de respeito e aprendizagem
recíproco, pois estamos sempre em constante aprimoramento intelectual. Esta relação entre
alunos e professores deve ser o mais natural possível, estabelecendo-se diálogos abertos, onde
a aproximação de seus problemas é que irá deixar nele a vontade de aprender e compartilhar
com os demais suas experiências. Fazer com que nossos alunos reflitam sobre o que acontece
ao seu redor e no mundo os levará a um crescimento individual, tornando-os cidadãos críticos
e defensores de suas próprias idéias. Mas para que isso aconteça é necessário os educadores
estarem conscientes de seus atos e obrigações, sabendo que não devem deixar transparecer
sinais de desmotivação, o que acaba gerando uma apatia geral ocorrida na maioria das escolas
públicas.
Observamos o que dizem alguns alunos em uma entrevista realizada pela Revista
Nova Escola
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: “Às vezes, vir à aula da raiva porque tem muita gente que não quer saber de
nada – inclusive os professores que faltam.” Outro: “Não tem nada pior que chegar numa
segunda-feira e ver o quadro cheio – só para fazer cópia.”Como os alunos deixaram claro
em suas críticas o desinteresse é geral; muitos vãoà escola para aprenderem algo que possa
lhes ajudar em seu futuro e acabam encontrando professores cansados, pois alguns enfrentam
longas jornadas de trabalho, os quais deixam transparecer em suas aulas a desmotivação ou
algumas vezes a falta de planejamento, tão importante para uma boa aprendizagem.
A EDUCAÇÃO E AS CONSEQÜÊNCIAS DO MODO DE PRODUÇÃO
CAPITALISTA
Observando a história da educação, nota-se que a Instituição Escolar já foi bem mais
rígida em seu passado; neutralizar as diferenças tentando levar a adaptação e a submissão dos
alunos era comum. Métodos que permitissem o controle do corpo, levando-o a sujeição de
suas forças, impondo-lhes uma relação de docilidade, de não reação às normas levavam o
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Revista Nova Escola de março de 2007((Pg 31 e 34).
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educando a realização da passagem de ano, a qual ficava trancada sem poder ser exposta.
Segundo Michel Foucault:
Isto leva a uma submissão do ser, onde o poder se mantém através da coercitividade,
levando o sujeito a obedecer sem o poder da crítica, de outras opiniões, sendo assim
um “boneco de presépio” nas mãos dos detentores do poder. (FOUCAULT, 1987, p.
118).
Desta forma se observa que a repressão utilizada no passado não trazia benefícios aos
alunos, onde o respeito era imposto através de ordens e do medo na escola. Uma relação de
angústias, em um lugar tido como impróprio para debater sobre seus anseios pessoais, suas
divagações sobre a sociedade/humanidade, mas com um caráter formal, onde dali sairia
grandes pensadores, talvez não tão críticos como o pudessem ser, mas com um grande
conhecimento técnico daquilo que aprendiam. Valores políticos, ética, humildade, dentre
outros seriam adquiridos no decorrer de suas vidas e não na escola.
Hoje em dia a percepção de que deve haver um diálogo mais aberto na sala de aula,
onde todos possuam voz ativa para exporem suas opiniões e anseios é preponderante. Uma
aula onde somente o professor dita as regras e as impõe sem ao menos escutar a opinião dos
alunos deve deixar de fazer parte do cotidiano escolar. Quando este tipo de metodologia é
utilizado, notam-se a indisciplina e a violência de alguns alunos que não aceitam tal
procedimento, causando transtornos ainda maiores, onde com uma simples conversa talvez,
pudesse se resolver o problema.
Todavia, deve se analisar a época em que vivemos, onde o capitalismo exacerbado leva
todos a uma luta constante em busca de sobrevivência, principalmente os pertencentes às
camadas menos favorecidas da sociedade. Essa batalha entre capital e trabalho gira em torno
dos meios de produção, sendo que a grande maioria de seus detentores não está preocupada
com a educação destes filhos da pobreza, pois para eles o que importa é o lucro e o poder.
Desta forma muitas pessoas acabam ficando à margem desta sociedade, sem condições de
estudar e adquirir uma melhor condição de resistir a esta opressão, o que leva seus filhos a
não darem a devida importância aos estudos. Valorescomo: o respeito ao próximo, a zelar
pelo patrimônio público, a sempre se utilizar da verdade, a repartir aquilo que possui, dentre
tantos outros acabam ficando a cargo da escola, a qual muitas vezes não consegue dar conta
de todos.
Assim, observamos que os conflitos vividos na sociedade são refletidos diretamente no
ambiente escolar. Os professores devem se dar conta de suas atribuições e procurar
utilizarem-se desta influência de forma a fazerem seus alunos entenderem as conseqüências
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que este modo de vida capitalista trás a cada um deles. Somos responsáveis pela transmissão
do saber, pela conservação dos valores sociais, pela manutenção e atualização dos princípios e
leis que regem a sociedade. Algumas vezes, consciente ou inconscientemente acaba-se
exercendo uma função conservadora e reacionária, não apenas pelo repasse do passado, mas
por torná-lo estático e algo determinante do presente e do futuro, transformando o ato de
educar em algo sem sentido para uma sociedade que deve aprender a lutar por seus direitos.
Nesta perspectiva, devemos refletir sobre o que Frigotto
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( 2001) diz:
... a prática educativa que se efetiva na escola é alvo de uma disputa de interesses
antagônicos. Sua especificidade política consiste, exatamente, na articulação do
saber produzido, elaborado, sistematizado e historicamente acumulado, com os
interesses de classe. ( FRIGOTTO, 2001 p. 33).
Desta forma esta reprodução de conteúdos prontos que não aceitam as interferências e
análises dos alunos continuam a produzir pessoas incapazes de refletirem sobre as
conseqüências que o sistema neoliberal causa, levando-os a submissão dos detentores do
poder. O educador deve ter em mente que é preciso repensar a educação enquanto inserida no
processo de transformação do saber. Entender que o significado da palavra educar deve ser a
capacidade de saber interpretar e transformar o mundo em que se vive, onde neste processo de
transformação inclui transformar a si próprio. Portanto, lutar por uma educação libertadora,
formando pessoas com senso crítico, capazes de mudar as relações dentro e fora da escola,
através de novas práticas democráticas, coerentes com a realidade é a base para um progresso
legítimo e eficaz. Segundo Freire:
A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação
não pode fundar-se numa compreensão dos homens como “seres vazios” a quem o
mundo “encha” de conteúdos; não pode basear-se numa consciência espacializada,
mecanicistamente compartimentada, mas nos homens como “corpos conscientes” e na
consciência como consciência intencionada ao mundo.Não pode ser a do depósito de
conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo.
(FREIRE, 1975, p. 77).
O ENSINO DA GEOGRAFIA
A Geografia é uma ciência rica em seu conteúdo, sendo o espaço geográfico seu
campo de abrangência. Assim, cabe aos educadores aprimorarem suas formas de ensinar, a
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Gaudêncio Frigotto em sua obra “A produtividade da escola improdutiva” faz um re-exame das
relações entre educação e estrutura econômico-social capitalista, utilizando-se da teoria do capital humano, tendo
como eixo de análise e apreensão das relações entreos processos econômicos-sociais e os processos educativos
num contexto em que a crise atual do capitalismo mundial já apresentava fortes indícios nos anos 70.
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fim de satisfazer os anseios dos alunos, pois em muitos casos somente levam textos enormes,
os quais têm pouco haver com a realidade cotidiana destes, não exercendo suas capacidades
de reflexão. A busca por metodologias que consigam levar o conteúdo ao aluno de maneira
mais compreensível, seja através do livro didático, o qual é um importante apoio, não
devendo ser o único meio, ou através de outras tecnologias e criatividades é que irá
diferenciar um educador de qualidade.
Observando-se a prática pedagógica de alguns professores, nota-se o fiel
cumprimento aos conteúdos dos livros didáticos, os quais discorrem sobre determinado
assunto e dali se determinam questões que são respondidas diretamente dos textos, onde não
dá a chance do aluno expressar sua opinião. Embora estes livros tragam conteúdos bem
dispostos e abrangentes, cabe ao professor associá-los ao dia a dia dos alunos e levá-los a
pensar sobre o que realmente faz a diferença na hora de aplicar o conhecimento adquirido.
Desta forma, a Geografia ensinada será mais interessante, ficando o educador com a
responsabilidade de levar à sala de aula maneiras diversificadas de apresentação destes
conteúdos o que levará a um processo de motivação da turma. Relacionado e isso Kimura
fala:
... a Geografia constitui-se em um campo fértil de oportunidades para experimentar
de maneira muito rica e estimulante várias habilidades e, desta forma, possibilitar ao
aluno desenvolver competências criativas de percepção e cognição a serem
incorporadas ao seu crescimento. (KIMURA, 2001, p. 26).
Alguns professores mencionam falta de motivação dos alunos, mesmo quando levadas
técnicas diferenciadas de aprendizagem. Daí percebe-se a importância do educador. Ele é o
elo entre o conteúdo e a aprendizagem; sua maneira de explicar, de incentivar os alunos é que
irá determinar o sucesso da aula. Os conceitos que se formam através da participação dos
integrantes da turma serão absorvidos de forma subjetiva por cada um, onde uma seleção
íntima do que é mais importante será captado e se formará a própria opinião sobre o assunto.
Desta forma, as aulas terão um sentido mais real diminuindo a falta de interesse pelo conteúdo
abrangido, tornando-a algo aprazível e motivador denovas descobertas.
EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS
Baseada na experiência como professora na adolescência, onde foram ministradas
aulas nas séries iniciais, 2ª e 4ª séries, pode se fazer uma comparação entre este período e os
estágios realizados na etapa acadêmica. A primeira fase caracterizou-se por uma prática
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docente na qual foram encontradas muitas dificuldades, entre elas: insegurança, caracterizada
pela falta de embasamento teórico e prático, alunos indisciplinados, conversas constantes,
onde não havia um apoio pedagógico da escola.
Na fase acadêmica, ao poder novamente estabelecer contato com a sala de aula nos
estágios, constatou-se que o aprimoramento teórico, bem como o apoio dos professores e
colegas é fundamental para estabelecer um nível de confiabilidade no potencial que
possuímos. A consciência de nossa responsabilidade como educadores deve estar muito
presente em nosso cotidiano, onde não devemos nos deixar levar pela desmotivação que
assombra determinadas escolas. Compreender a diversidade de idéias e entender que cada um
de teus alunos possui uma vida própria e conseqüentemente um objetivo diferente é nossa
obrigação. Não é nada fácil, ou quase impossível conseguir atingir a todos em uma sala de
aula, geralmente com 30/40 alunos, mas levar o conteúdo de forma mais aprazível e instigante
deve ser nossa meta.
Foram realizados dois estágios no período noturno,onde as características geralmente
são de alunos trabalhadores ou aqueles que cuidam da casa e dos irmãos para os pais
trabalharem. Notou-se que estavam acostumados a receber o conteúdo sempre pronto,
geralmente com grandes questionários para estudareme decorarem para as provas. Porém, a
proposta levada à sala de aula era a de introduzir um processo dialógico, com conversas sobre
o conteúdo associado ao cotidiano deles, induzindo-os assim a pensarem criticamente sobre
aquilo que lhes era informado. Este objetivo estavapresente em todas as aulas: a participação
ativa nas atividades propostas. Expor suas opiniõesera muito importante e eram instigados
constantemente para isso, onde saiam reflexões que condiziam com a realidade e com o sonho
de mudança de alguns. Com referência ao diálogo na sala de aula, Freire diz:
Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa,
é educado, em diálogo com o educando, que ao ser educado, também educa. Ambos,
assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os
“argumentos de autoridade” já não valem. (FREIRE, 1983, p. 68).
Este processo dialógico é muito interessante. Durante a aprendizagem acadêmica
observei que a maioria dos professores instiga esta capacidade dos alunos. Claro que é
diferente porque na academia somos adultos enquanto que na escola geralmente são
adolescentes em fase de exploração, onde o debate fica mais restrito a opiniões próprias, sem
muito embasamento teórico. Neste ponto, nota-se que a educação é uma atividade onde
professores e alunos, mediatizados pela realidade da qual fazem parte e de onde retiram o
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conteúdo de sua aprendizagem atinjam um nível de consciência desta mesma realidade,
transformando-a socialmente.
Observou-se entre os alunos que há muitas diferenças, principalmente na capacidade
de dialogar. Havia adolescentes, mais comunicativose pessoas de mais idade, as quais tinham
de ser muito instigadas a interagir sobre o assuntodebatido, caso contrário não participavam
do diálogo. Percebeu-se que ao serem estimulados, idéias próprias apareciam, onde a
construção do conhecimento realmente se fez presente, tirando aquela mesmice de repetir o
que os autores escrevem sem uma posição definida. Alguns estavam presentes somente de
corpo, mas sem intenção de aprender algo de novo, deixando claro que não queriam
participar, apresentando em determinados momentos atitudes indisciplinadas. Nestas
circunstâncias era dada uma pausa no conteúdo, demonstrando a autoridade do professor
como meio de mostrar os valores e as reais necessidades do processo de ensino aprendizagem
que todos estavam passando no momento. Não de formaautoritária, mas de modo a fazê-los
ver além da suas próprias perspectivas individuais,onde respeito ao próximo era colocado em
pauta e o desejo de estar na escola para aprender algo deveria ser considerado por todos,
inclusive por quem não estivesse com vontade de fazê-lo. Nesta linha de pensamento
D’Antola diz:
A autoridade deve ser usada para dirigir a classe, pois, quanto mais confiança os
alunos tiverem no professor, enquanto autoridade que dirige o curso produtivo, que
pode manter a disciplina, que tem bom domínio de conhecimento, mais confiança os
alunos terão nas intervenções do professor, o qual deve utilizar a autoridade dentro
dos limites da democracia. (D’ANTOLA, 1989, p. 53).
Em relação ao ensino médio a prática foi mais curta. A turma contava com trinta e
cinco alunos presentes. De início estes tiveram alguma rejeição devido ao afeto à professora
regente, mas quando o estágio terminou, a maioria queria que as estagiárias continuassem a
frente da disciplina. Tentou-se construir uma prática educativa que superasse as mazelas do
ensino tradicional, este que até os dias atuais ainda é tão utilizado. Assim, nosso objetivo
principal era de possibilitar um trabalho mais significativo e transformador na sala de aula,
fazendo com que nossos alunos se tornassem sujeitos que percebem as modificações que
ocorrem na sociedade onde vivem, buscando a sua transformação.
Iniciou-se as aulas com a proposta de se fazer uma atividade diária valendo nota,
sendo geralmente uma reflexão sobre o conteúdo estudado. Observou-se que poucos sabiam
se expressar através da escrita; tinham muitos erros de português, o conteúdo não se
desenvolvia, onde quase sempre saiam poucas linhas com algo que a professora havia
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informado. No final, valeu a pena porque textos mais críticos e com opiniões próprias
começaram a se desenvolver, sendo que como foram poucas aulas o progresso foi
interrompido, já que a professora regente não adotava tal prática metodológica.
Uma maquete sobre os diferentes tipos de rochas foi levada à sala de aula. A
expectativa era de conseguir desenvolver no aluno, a capacidade de observar, analisar,
interpretar e pensar criticamente a realidade, tendo em vista a sua transformação, a qual se
vincula nas relações da sociedade com o meio ambiente. Foi um pouco decepcionante, pois a
motivação que pensamos existir quando olhassem para a maquete não ocorreu. Alguns
observam com desinteresse, tocaram no gel do qual parte era composta e fizeram cara feia.
Esta desmotivação dos próprios alunos também nos faz refletir sobre os motivos que
os levam a tais atitudes de desinteresse. Talvez pela idade, os adolescentes, onde a paquera, as
roupas da moda e assuntos que rolam na internet sãobem mais atrativos que os conteúdos de
Geografia. O professor deve estar ciente que estes temas fazem parte do cotidiano dos alunos
devendo tentar se entrosar e debater sobre eles o que irá causar um sentimento de
cumplicidade. Desta forma conseguirá unir os interesses dos alunos com o conteúdo a ser
desenvolvido de modo a tornar o processo de aprendizagem mais interessante. Conforme
Bandiera argumenta em sua obra:
Quando a criança encontra alguma dificuldade para alcançar ou para aprender um
conhecimento novo, cabe ao professor no caso especifico da escola, providenciar
estímulos que auxiliem a criança a superar a dificuldade encontrada. Melhor
dizendo, professor e aluno, juntos, tentarão buscar as soluções almejadas para a
aprendizagem. Ao professor cabe tornar o processo de construção do conhecimento
contextualizado. A criança deve estar interessada em aprender o novo, isto porque
lhe trará satisfação, novo modo de ver e de conceber o mundo e os seres que o
cercam. A aprendizagem construída com a interação professor-aluno deve ser
significativa para o aluno, a partir dos seus interesses. (BANDIERA, 2005, p. 28).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inovar a Geografia é torná-la interessante e crítica, pois instiga a curiosidade dos
alunos e une assuntos que nos livros didáticos parecem não ter conexão. De forma mais
especifica, pode-se dizer que além de uma renovaçãono modo de ensinar, a construção do
conhecimento através de metodologias variadas é uma atividade que aproxima o aluno da
realidade que o cerca. Constatou-se que a prática docente precisa sofrer estas modificações,
pois a escola e os conteúdos trabalhados parecem não ter relação com a vida dos alunos, não
havendo uma associação entre ambas.
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Para que isso aconteça é necessário o planejamento do professor, pois com tudo
estrategicamente planejado, embora algumas vezes tendo que modificar o plano facilita muito
o processo de ensino aprendizagem. A flexibilidade deve fazer parte de trabalho, onde se
observa que os alunos possuem ritmos diferentes e isso precisa ser respeitado, assim, é
fundamental uma constante avaliação deste planejamento, bem como sua readequação se for
necessário. Também a utilização dos recursos didáticos disponíveis e adequados ao tema
estudado, como transparências, slides, vídeos, jornais, fotografias, dentre outros deve ser
muito explorado.
Observa-se que o professor é o elo entre o ensino ea aprendizagem, portanto este deve
estar sempre procurando maneiras de ampliar as formas de ministrar o conteúdo. Dependendo
da metodologia de ensino que ele utilizará poderá proporcionar aulas criativas e dinâmicas
que exerçam um poder de atração e não de repulsão como geralmente os alunos enxergam a
maioria dos conteúdos de Geografia. O educador deveestar constantemente repensando a sua
prática, pois estará contribuindo na formação de cidadãos mais conscientes que deverão
encontrar no ensino a base para saber pensar o espaço geográfico.
Portanto, a experiência como educadora foi fundamental. A prática proporcionou uma
aproximação da realidade do cotidiano do professor e o entendimento que ensinar não é
somente transmitir conteúdos e sim uma troca de conhecimentos que exige ética,
cumplicidade, bom senso e muita pesquisa. Esta busca por uma educação que seja capaz de
transformar o momento do aprendizado em algo significativo para o crescimento intelectual e
pessoal dos alunos e do próprio educador é que leva à Escola a ser um local infinitamente
valoroso. Ela proporciona momentos de transformação do pensamento o que acaba levando-nos a ser pessoas que sejam capazes de atuar como agentes transformadores da desigualdade
social e da opressão que sofremos pelas classes dominantes em nossa sociedade.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORDAS, Marie Ange. Como o jovem vê a escola. REVISTA NOVA ESCOLA (São
Paulo); nr 200, p. 28-47, 2007.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 13ª ed. - Coleção O Mundo Hoje. Rio de Janeiro:
Paz e Terra.,v.21, 1983.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 23ª Ed. São Paulo: Paz e Terra,
1999.
LUCCI, Elian Alabi. Geografia. Homem e espaço. As relações internacionais e a
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OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Para onde vai o ensino de Geografia? 5° ed. São
Paulo: Contexto, 1994.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Para onde vai o ensino de Geografia? 9° ed. São
Paulo: Contexto, 2005.
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