domingo, 29 de setembro de 2013

Um dialogo de Nestor Kaercher com o Manuel Fernandes

Das coisas sem Rosa uma delas é o Pessoa: as geografias do Manoel e do Nestor na 
busca do bom professor
Nestor André Kaercher
fonte: abaixo

Um consenso logo se fez na fala dos dois convidados -  Jorge Barcellos e Manoel Santana  -  à  mesa-redonda  VIII  deste  10º  ENPEG  “Quais  saberes  constituem  um  bom  professor  de Geografia?”.  A  palavra “bom”  do título da mesa, deve ser usada com reservas, pois pode dar um tom  demasiado  prescritivo  às  falas  dos  referidos  professores.  Não  vou  aqui  polemizar  com  os colegas.  Não  seria  honesto  já  que  estaria  fazendo-o  posteriormente  às  intervenções  e  escritas deles. Basta, então,  que você leitor se diriga aos textos deles. Discordando deles, abaixo vou ser pretensioso  e  colocar-me  entre  os  que  ao  falar  de  docência,  já  colocam  suas  preferências,  e, porque não, postulam ser modelares. Nós professores,  sempre somos modelos, ainda que muitas vezes, negativos.

O professor, bom ou mau, sempre é modelar. 

Se somos modelos aos nossos alunos, sejamos ambiciosos, sejamos morineanos: 
“Ensinar a condição humana. Conhecer o humano é, antes de mais nada, situá-lo no universo, e não separá-lo dele. Como vimos, todo conhecimento deve  contextualizar  seu  objeto,  para  ser  pertinente.  “Quem  somos?”  é inseparável de “onde estamos?”, “De onde viemos?”, “Para onde vamos?”. 
Interrogar  nossa  condição  humana  implica  questionar  primeiro  nossa 
posição no mundo”. (Morin, p. 47)
Como  você,  professor,  pode  ‘ensinar  a  condição  humana?  Aliás,  como  você  ensina? Sabemos como o outro aprende?  Todos temos nossas hipóteses para responder a essas questões! Não raro hipóteses pouco refletidas e problematizadas. Proponho é que coloquemos tais hipóteses em  teste  e  discussão  permanente.  Para  evitar  o  risco  de  confundir,  algo  tão  comum  entre  nós educadores, ‘anos de prática’ com ‘qualidade de prática’. Em termos outros: fazer há muitos anos a  docência  não  implica,  necessariamente,  fazer  bem  feito!  Tempo  de  experiência  na  docência, sem  reflexão  e  auto-crítica,  é  correr  o  risco  de  ‘deitar  em  berço  esplêndido’  da  segurança  que desmobiliza.
Este  texto  tem  vários  objetivos.  Tão  fáceis  de  listar  quanto  difícil  de  alcançar!  Eu  e minhas miragens:  discutir  algumas  concepções  epistemológicas  e  didáticas  que  cotidianamente apresentamos como sendo ‘aula de geografia’. ‘Pensar  uma pergunta’: que concepção de ensinar e que visão de ‘ciência’ (no caso, geografia) estão embutidas em nossas aulas? Quero  também destacar a importância de apresentarmos visões de conhecimento que contemplem a contradição, o  conflito,  a  imperfeição,  o fracasso  e  a  decepção  como  inerentes  e  necessárias  à  docência. Sentimentos estes que devem ser admitidos e pensados para que não fiquem no sótão de nossas memórias ocupando espaço de mágoas e rancores tão facilmente transmitidos aos alunos.    Aliás, se  conseguirmos  admitir  que  nossa  docência carrega  muito  de  rancor  e  decepção  já  estamos avançando a repensá-la de forma menos idealizada. Desacomodar uma visão muito impregnada nos professores da disciplina que creem  que  ‘tudo  seja geografia’ ou que a geografia seja uma disciplina  ‘atrativa e interessante por simplesmente falar do mundo que habitamos’  aos alunos. Não basta que ela esteja (obrigatoriamente) nos currículos. Quero que ela habite o coração e a mente  dos  alunos.  Sem  aquele  discurso  ufanista  “a  geografia  é  a  disciplina  mais legal  porque mais  interdisciplinar”. Bobice! Convidar cada professor a buscar os objetivos de suas aulas que ultrapassem o simples ‘vencer o conteúdo’. Precisamos buscar uma boa base epistemológica para que nossos  alunos  ‘careçam’  (=  desejem)  nossas  aulas  e  não  simplesmente  ‘estejam  diante  de nós’ (= necessitem nos ouvir por obrigação).  Quero desafiar mestre Rosa: “Por enquanto, que eu penso, tudo quanto há, neste mundo, é porque se merece e carece” (Rosa, 1986, p. 10). Penso que  precisamos  seduzir nossos  alunos  para  que  eles  pensem  que  a  geografia  seja  merecida  de estar  no  currículo.  Cuidemos desta  inércia  perigosa  ...  o  berço  confortável  de  pensar  que  a geografia seja carecida pelos alunos. Repensar nossas aulas: como se ensina;  como se aprende?  Os conteúdos continuarão  os clássicos, os  do livro didático. Isso não é defeito algum. Podemos, no entanto, por um tempero nestes  conteúdos:  o  que 
eu  quero  ensinar  quando  ensino  ...  ‘urbanização’,  ‘geografia  agrária’, ‘aspectos da natureza’, ‘globalização’, etc? Que valores éticos, estéticos e políticos eu levo junto com meus conteúdos? 
Por fim, mas não por último,  o texto  deseja homenagear e dialogar com a geografia de Manoel  Fernandes  Sousa  Neto.  Com  isso  quer-se  também  atiçar  o  leitor  a  buscar  seus inspiradores, seus parceiros de viagem    que não apenas os livros  didáticos e ou livros técnicos. Incentivar meu leitor a escrever a sua palavra, divulgar a sua ideia porque a docência requer dizer sua  palavra,  de  preferência,  na  forma  escrita.  Não  somos  índios,  viventes  numa  geografia  sem grafia. Vamos grafar a terra!

Alguns aperitivos de  provocação  para pensar a fé, às vezes quase cega, no poder da geografia 

“A geografia, isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra” (Lacoste, 1988)

“Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães ...” (Rosa, 1986, p.1)

“Das coisas sem serventia uma delas é a geografia” (Sousa Neto, 2008, p.)

Comparemos a pedante, clássica e ótima frase de Lacoste com a  que parafraseia o título deste  artigo,  muy provocativa,  iconoclasta  e  também  ótima  de  Sousa  Neto  (de  hora  em  diante denominado simplesmente Manoel). Lacoste acordava-nos há  mais de vinte anos atrás: ei, o que estamos fazendo com a geografia?! Algo tão político, polêmico e dinâmico como a disciplina de geografia  foi/é/está  sendo  domesticado,  pasteurizado,  higienizado  em  nossas  aulas!  Acordem professores, acordemos nossos alunos,  panfletava-nos  o mestre francês. Ele  permanece atual  ao criticar  a  ‘geografia  dos  professores’,  que  eu  denomino  ‘geografia  do  pastel  de  vento’  porque apesar da bela aparência (‘a Geografia é demais!’) –  na nossa própria visão, claro –  muitas vezes lhe falta substância, poder analítico e reflexivo (Kaercher, in Terra Livre, n.28). 
Sousa  Neto,  ops,  Manoel,  é  pura  e  necessarísima  provocação.  Ei,  não  acreditemos  tão automaticamente  que  nós,  professores  de  geografia,  estejamos  conseguindo  alertar  e  provocar nossos alunos do Ensino Fundamental e Médio (EFM)  só porque cremos (que bom!)  que a dita cuja  geografia  seja  importante  e  interessante.  Para  muitos  alunos  ela  é,  de  fato,  algo  ainda enfadonho e insosso. Estou sendo  pesado, pessimista? Talvez. Não seria a primeira vez a sê-lo. Esses ouvidos e velhos olhos azuis já ouviram e viram cada coisa, sempre em nome da geografia,na  província  de  São  Pedro  do  Rio Grande  do  Sul!  E  com  as  boas  intenções  que  sempre  nos acompanham!  Sugiro  então,  a  você colega,  que  trabalha  na  graduação,  que  interrogue  seus alunos: como foram suas aulas de geografia? Os relatos não são dos mais  alvissareiros.  ‘Ah, mas  isso  mudou!  Já  está  sepultada  a  geografia  mnemônica e  vazia  de  sentido’,  vão  dizer  os necessários  otimistas.  Desculpe-me,  mas  estou  lendo  agora  relatos de  aulas  de  geografia  que meus  alunos  estagiários  assistem  e  o  quadro  é  preocupante.  Às  vezes  o que  se  lê  é  aterrador. Predomina ainda uma prática pedagógica que leva os alunos do EFM não darem importância às nossas aulas, pois não veem nelas sentido. E não prestar atenção nestas aulas não deixa de ser um bom senso, em muitos casos, pois o prato oferecido com o nome de geografia é frio e insosso (pastel de vento?).  Não que sirva de consolo, mas este não é um quadro exclusivo da  ‘nação de chuteiras’. Rodríguez e Lache (2008, pgs. 268, 270, 272, 289) dizem coisas que nos devem por em  alerta  para  buscarmos,  com  muita  humildade  e  reflexão:  a  renovação  das  nossas  práticas pedagógicas vai demandar muito estudo e câmbios epistemológicos.
Sim,  sei  que  os  motivos  para  o  desânimo  dos  professores  é  racional  e  farto.  Os desanimados tem razão em ‘dar qualquer coisa’ para seus alunos. Mas, eu não quero ter razão! Eu quero ser feliz! E, sendo professor, posso crer (todo professor é um crente, ainda que ateu seja) que posso  fazer a diferença com meus alunos e dar o meu melhor.  Eu preciso estar bem em sala para  dar  uma  aula  boa.  Para  agradar  aos  alunos?  Não,  para  manter-me  vivo!  Vejam  quão contraditório é esse humilde escriba: os otimistas tem razão em  tentar fazer a diferença na e com a  docência!  Os  pessimistas  tem  razão  em  crer  que  a  educação  (e  nossas  aulas)  podem  muito pouco! Dialética e conflituosa situação. Assim é a vida. “Tudo é e não é ... Quase todo mais grave criminoso  feroz  sempre  é  muito  bom  marido,  bom  filho,  bom  pai,  e  é  bom  amigo-de-seus amigos!” (Rosa, p.5). Daí o motivo de ter colocado Rosa acima  no meu título: todas as opiniões sobre  a  geografia  são  válidas.  Inclusive  sobre  sua  (des)importância.  Conquanto  sejam argumentadas de forma plural e contraditória com nossos alunos. Daí ficaria mais contente em saber que a geografia, como coisa do mundo, é necessária e dela se carece, mesmo que não seja tão precisa no sentido de precisão  ( = exatidão). Daí a frase genial do monstro Pessoa: “viver não é preciso, navegar é preciso”. Queremos, não raro, fazer da docência e da geografia, algo preciso, exato, meramente racional. Não é. Não é só isso. Mais importante que a sua precisão/exatidão é ... o percurso feito com ela junto com os alunos.  Com isso coloco outro alerta. Não esperar que vamos aprender nas Faculdades de Educação a sermos professores. Ali pode se obter bons conhecimentos,  mas  para  a  docência  há  que  se  ter  paixão.  E  essa  você  não  vai  aprender  em faculdade alguma.

“Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a  por  isso,  Porque quem  ama  nunca  abe   que  ama  Nem  sabe  por  que  ama, nem o que é amar ...” (Pessoa, O guardador de rebanhos, poema II).

Em tempo: ser contraditório não é ‘erro’, algo a ser apagado, corrigido. Ser contraditório é ser humano, estar vivo, pensante, pulsante, aprendiz permanente. Estar aberto ao novo, sabendo a dor que é ter que mudar. Papo furado quem diz que mudar é bom, todos gostam. Quimera. Mudar dói.  “Pensar  incomoda  como  andar  à  chuva  quando  o  vento  cresce  e  parece  que  chove  mais” (Pessoa, O Guardador de Rebanhos, poema I).

Continuemos com mais uma outra provocação: nossas aulas

“Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar, 
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar
E toda aquela infância
Que não tive me vem, 
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.
Se quem fui é enigma, 
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no meu coração.
(Pessoa, 2007, p. 138)

Se  Deus  existe,  não  sei  ...  ‘nessas  altas  ideias  navego  mal’  (Rosa,  p.7),  mas  Pessoa  é ‘existível’. Nele creio ‘quieto feito ouvindo santa-missa perto do altar’ (Rosa, p.319) e penso que:
a)  perceber o  sorriso de uma criança pode nos ajudar a sermos  docentes  mais animados pois ‘somente com a alegria é que a gente realiza bem’ (Rosa, p. 368). Veja a associação do sorriso  com  as  memórias  da  infância!  Já  se  deram  conta  como  as  memórias  revelam espaços, nos trazem paisagens e  lugares?  Sepúlveda (2009, p. 89) propõe  “o corpo como uma forma primeira de espaço”. Complementa (idem, p. 85): 

“compreender  a  apropriação  que  o  indivíduo  pode  fazer  de  seu  corpo  ou  dos 
espaços  primeiros,  é  um  passo  inicial  para  chegar  a  construir  uma  verdadeira 
morada.  Tudo  isso  é  possível  se  se  propicia  um  ensino  que  se  orienta  a 
constituição de sujeitos”.

Aqui há um baita problema: como manter o ânimo quando a realidade nos maltrata tanto? Concordo que ser alegre é bom, mas isso não está disponível em nossa  dispensa sempre.  Ser alegre não implica ser abobado.  Temos, contudo, compromisso em manter a vida pulsando em nossas escolas, e isso significa,  entre outras coisas,  reflexão  e discussão sistematizada de ideias.  Manter-se animado não para parecer ‘simpático’ aos alunos, mas como condição  sine qua non para manter-se vivo na profissão, que é árdua, não raro, árida.
b)  não  tem  como  ‘docenciar’  sem  perguntar  a  si  e  aos  alunos:  quem  somos,  ainda  que  a resposta seja um enigma (daí a razão da epígrafe de Morin no início do texto); 
c)  que pra docenciar bem se carece ter visões, crenças e que, por mais racional que seja este ato  é  preciso  sentir  com  coração.  E  que  ‘sentir  sensações  e  emoções’  não  é matéria/conteúdo de nenhuma faculdade! Nem de Educação!
Que  os  educadores  diante  de  tantos  enigmas  (afinal,  desconhecemos  muito  mais  do  que sabemos) da vida saibam propor visões, sentimentos e perguntas aos discentes, sejam lá quais forem suas idades.
d)  Sentir com o coração e a razão não garante boas aulas, pois ‘viver não  é preciso, navegar é preciso’. Então, naveguemos, mas o façamos juntos, tendo os alunos como parceiros, pois ‘é no junto que a gente sabem bem, que a gente aprende o melhor...” (Rosa, p. 302)
Vejam o relato de um estagiário  sobre  aulas  –  ministradas em março de 2009 em escolas de bairros bem localizados/estruturados de Porto Alegre  -  de geografia  (fiz pequenas supressões para diminuir a acidez do relato): 

“O primeiro exercício ela fez com todos. O segundo ela (professora) mandou fazer 
sozinho, mas era praticamente igual ao desenho que ela tinha posto no quadro. Na 
verdade  era  só  copiar  do  quadro  os  pontos  cardeais  e  colaterais.  Não  exigia 
qualquer  raciocínio  do  aluno.  (...)  Essa  atividade  de  repetição  foi  seguida  pela 
pintura da figura da folha. Chamou-me a atenção a proibição do boné na sala. Essa 
aula foi ruim, na minha opinião. Perderam-se bons minutos nesta história de pintar 
figuras. Ela poderia ter  colocado outros tipos de exercício, já que era revisão. Por 
fim,  a  professora  mandou  um  tema  de  casa  perguntando  o  que  era  Latitude  e
Longitude. Tarefa muitíssimo simples e que os alunos já comentavam entre si que 
era só copiar do caderno do ano passado”.

Continua, outra aula observada:

“Mandou  colorir  o  mapa  e  colocar  na  pasta.  Ela  simplesmente  não  aproveitou 
aquele  recurso  para  trabalhar  algo.  Não  havia  perguntas,  curiosidades,  figuras, 
nada  ...  apenas  o  bom  e  velho  mapa  que  estamos  acostumados  a  ver,  mas  não 
necessariamente  conhecemos.  Sua  intenção  era  literalmente  deixar  a  gurizada 
ocupada! Nenhum trabalho foi visto ou valorizado. A questão era somente ocupar 
a gurizada. Não houve interação. Como se estivessem sozinhos na aula. 
Foi uma aula interessante de observar. Foi bom ter ficado uma tarde inteira com 
eles e visto o quão difícil é agüentar ate o fim. Sempre que eu saio do colégio fico 
pensando o resto da tarde que eles ainda vão ficar lá. Isso me dá motivação extra 
para fazer algo mais interessante, ou menos penoso, no mínimo, para eles”.

Não se trata de buscar com lupa ‘maus’ exemplos  de aulas. Não, infelizmente, este relato é  bem  mais  comum  do  que  gostaríamos.  Tampouco  trata  de  desconsiderar  as  dificuldades cotidianas  dos  professores  do  EFM.  O  desânimo  do  docente,  sem  dúvida,  parece  ser  um  dos maiores obstáculos. Os professores estão  desmotivados, e tem  suas razões. A questão é que isso afeta um bom número de adolescentes que, num círculo nada virtuoso, desmotivar-se-ão com os ensinamentos. Nesta hora digo para meus alunos estagiários:  se vocês não conseguirem  vínculo com seus alunos, não  buscarem  neles motivação e energia, a docência fica não só árdua, como sem sentido.
Um outro estagiário numa outra escola escreve:

“Desde o início S  –  a professora titular  –  sempre se mostrou muito aberta, sincera 
e  prestativa.  Demonstrou  seu  total  descontentamento  em  ministrar  a  disciplina. 
Disse-me:  ‘Estou  aqui  apenas  para  tapar  um  buraco,  enrolar  e  passar  o  tempo 
deles’. Mal sabe, aliás, bem sabe ela, o rombo geográfico (!!!) que está causando 
nos alunos. (...) Na aula há uma bagunça generalizada. Este ambiente não favorece 
em  nada  o  desenvolvimento  das  atividades  ligadas  a  geografia,  que  são  levadas 
apenas  através de trabalhos em grupo, que nada mais são do que responder três ou 
quatro perguntas que estão no livro, ‘valendo nota’.”

E, noutro dia, outra observação, com a mesma professora:

“Tem medo declarado de alguns alunos, de nenhuma forma interagindo com eles, 
nem mesmo repreendendo os que comprometem com suas atitudes o andamento 
da  aula.  Não  dialoga  com  a  turma  toda,  apenas  de  forma  individual  ou  em 
pequenos grupos (...) Trabalhou apenas com o livro didático, copiando um texto no 
quadro,  no  meio  de  um  barulho  muito  grande.  Foram  dez  minutos  para  tentar 
controlar a turma, mas sem nenhum sucesso. Só três alunos pareciam interessados 
em  copiar.  A  questão  que  ela  coloca  estava  fora  do  contexto  do  livro.  Era  uma 
questão relacionada a velocidade da luz, com a distância entre a Terra e a Lua. (...) 
Muitos alunos cansados de não fazer nada, conversam sobre quaisquer assuntos. 
Há muito barulho”

Um pequeno trecho de outra estagiária:

“Nesta aula destaco o uso do tempo em sala de aula. As respostas solicitadas aos 
alunos estavam no texto e poderiam ser feitas em casa, já as questões reflexivas 
não  foram  pedidas.  Certamente  seria  mais  produtivo  se,  ao  invés  de  ficarem 
copiando trechos do livro, fossem discutidas as respostas e feitas as questões que 
não estavam no texto”
Para finalizar esta parte e não ficar só nos exemplos desestimulantes a aluna-  estagiária
coloca:

“É uma turma muito participativa. São agitados, como qualquer criança desta faixa 
etária (10-12 anos). Eles querem falar. Querem fazer. Percebo que querem fazer as 
atividades não para se livrarem delas, mas para mostrarem que sabem. As atitudes 
deles me fizeram parar para pensar quando é que perdemos a  espontaneidade para 
perguntar, falar, refletir? Será que é na escola? Tive medo de ser eu uma daquelas 
professoras que vai podar essa vontade que eles tem de fazer tudo, de conversar, 
de opinar.
Percebi  que  eles  não  são  resistentes  a  aula,  eles  até  gostam.  Se  a  atividade  for 
envolvente, intrigante, eles fazem, trocam idéias, conversam sobre, ajudam-se. No 
geral, exceções a parte, são muito participativos e interessados”.

A fé no aluno como pressuposto epistemológico

O que eu gostaria de destacar é a importância do professor colocar ‘fé’ nos alunos. Faz toda a diferença.  E, de novo, ‘fé’ não se aprende na universidade. Uma atitude epistemológica (meu  aluno  pode,  meu  aluno  sabe,  meu  aluno  quer  (aprender,  por  exemplo)  vai  gerar  um movimento  pedagógico  e  epistemológico  duplo:  eu  vou,  como  professor  tentar  atingi-los  de forma a se engajarem nas minhas aulas e propostas e, segundo minha experiência, vão também perceber  meu  envolvimento,  meu  interesse  em  ensinar-lhes  coisas  legais.  E  vão  tentar  me agradar, vão tentar me satisfazer. Qual o pressuposto ai: somos carentes, precisamos do outro, seja na condição de professor ou aluno. Quem me disser que a reação dos alunos a sua aula é indiferente está, provavelmente, blefando. Eu quero agradá-los sim. Mas isso não implica em não ter autoridade, não cobrar, não ser exigente.  Nem tampouco cair na armadilha de ser só ‘amigo’, simpático ou ‘show man’!  O contrário, está claro em vários depoimentos de professores que são marcantes:  a  sua  seriedade  e  compromisso  em  promover  a  aprendizagem  são  percebidas  pelos 
alunos como virtudes. E a cobrança é bem vista pelos alunos, ainda que, num primeiro momento, reclamem.

E a geografia do Manoel Fernandes? Um decálogo que é meu também ...

“Temos, todos que viemos, 
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada, 
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar
(Pessoa, 2007, p. 144-5)

Com mais este excerto de Pessoa quero prosseguir na ideia, já aventada em outros textos ((Kaercher in Neves et al, 2007, Kaercher in Pereira et al, 2008)  que a geografia, assim como as demais  disciplinas escolares,  precisa  ajudar  o  aluno  a  ver  o  mundo  de  forma  mais  plural  e complexa.  Uma  geografia
que  busque  nossa  ontologia.  Rego  (no  prelo)  também  defende  a geografia  como  uma  possibilidade de  reconstrução  ontológica:  a  geografia  como  pretexto  para repensarmos  nossa  existência.  Uma  das formas  de  fazer  é  refletir  os  temas  do  cotidiano,  por exemplo,  os  temas  da  mídia,  inclusive programas  sensacionalistas  da  televisão,  usando  as categorias  espaciais:  espaço,  natureza, território/propriedade,  lugar,  diferenças  sociais  e  da paisagem, pois estes conceitos são visualizados no espaço, na cotidianeidade.
Comecei o texto pensando no Manoel e fui me metendo no Pessoa, no Rosa  pois é tudo muito misturado: “A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde  o  poder  de  continuação  –  porque  a  vida  é  mutirão  de  todos,  por  todos  remexida  e temperada” (Rosa, p.406). Deixa eu voltar ao Manoel pois ele, com todo o respeito – a ‘bençaum, mano’  -  ,  é  pretexto  para  repensarmos  constantemente  nossa  docência,  almejando  como  fim maior  (sem  haver  final,  que  a  ‘única  conclusão  é  morrer’,  também  já  nos  ensina  Pessoa)  a dialogicidade com os alunos e uma prática escolar reflexiva que promova a escrita, a leitura e a oralidade de nossos alunos  não com o intuito maior de avaliá-los, mas  sim de discutir nossa existência, nossa espacialidade, nossa sociedade.
Voltemos  ao  Manoel,  então.  Jogo  algumas  ideias  dele  no  papel  para  que  você  leitor reivente-as, reescreva-as, com sua razão e com sua emoção.  Vou evitar tecer comentários para não ser  redundante e não me estender demasiado.  O número no parêntese é a página da obra de Sousa Neto, digo, Fernandes, ou melhor, do Manoel.
Algumas sementes para grafarmos a Terra manuelinamente:
1.  “Por isso é impossível, ou quase, aceitar que  exista aquele professor que não queira, 
antes de mais nada, vir a saber, o que exige dele uma atividade permanente de investigação” (17). 
“Por isso a aula é antes de mais nada sonho e trabalho, imaginação criativa e dança, poesia e luta, 
como  na  Ilíada  de  Homero”  (18).  “As  aulas  são  para  mim  aquele  momento  e  lugar  em  que 
devemos dar o melhor de nós e despertar o que há de melhor nos outros. A aula como diálogo 
criativo” (19).
Veja: sonho e trabalho. Juntos. Indissociáveis. Não é só imaginar um mundo de ideias, um mundo perfeito. É operacionalizar isso! Com labor, suor. E, dialeticamente, que esse labor tenha o nosso melhor. E o nosso sonhar. 
2. “Dizer como dar uma aula ou como devem ser as aulas é como negar tudo aquilo em que efetivamente acredito. E poderia até lhes perguntar se devemos oferecer as pessoas apenas aquilo que elas esperam de nós ou se devemos surpreendê-las permanentemente (...) Ao invés de tratá-los  como  incapazes  e  fornecer-lhes  instrumentos  com  os  quais  vocês  devem  se  adaptar, imagino que é preciso tratá-los como criadores” (20-21).
3. “O importante é que o professor antes de estar disposto a dar respostas deve fazer a si mesmo  uma  série  de  perguntas:  a  quem  ensinar?  O  que  ensinar?  Quando  ensinar?  Como ensinar?” (24). “A aula de geografia pode contribuir para fazer as pessoas pensarem sobre suas imagens  de  mundo,  o  modo  como  foram  construídas,  as  razões  pelas  quais  se  mantêm  e  as maneiras outras de imaginar esse mesmo mundo” (27).
As respostas ao que Manoel propõe são variadas, mas sempre vão exigir de nós reflexão e abertura  a  repensar  nossas  certezas.  Uma  dica  nos  é  dada:  pensar  as  imagens  que  temos  do mundo.  Bonito.  Imagens  de  mundo?  O  mundo  não  é  (apenas)  como  imaginamos!  Como  se  a realidade fosse (só) a dos meus olhos e sentidos. Podemos ver  a mesma Jerusalém, mas para um judeu  é  a  ‘capital  indivisível  de  meu  país,  de  meu  povo’,  para  um  palestino  pode  ser  a  terra ‘usurpada’ de meus antepassados.  Morin alerta para a dificuldade em termos  uma boa ideia da realidade já que  sempre ela será vista a  partir de nossos referenciais de mundo, referenciais estes que  nunca  são  apenas  objetivos  ou  científicos.  E  mesmo  que  fossem  não  garantiriam  muitas certezas e nem acertos.

Enfrentar as incertezas. Existe, portanto, a dificuldade do auto-exame crítico, 
para  o  qual  nossa  sinceridade  não  é  garantia  de  certeza,  e  existem  limites  para 
qualquer autoconhecimento (...) Dessa forma, a realidade não é facilmente legível. 
As ideais e teorias não refletem, mas traduzem a realidade, que podem traduzir de 
maneira errônea. Nossa realidade não é outra senão nossa idéia da realidade. (...) 
Compreender a incerteza do real”. (Morin, p. 85)

Será que nós professores não temos muitas certezas na docência? Como evitar que nossa boa  intenção  de  “dar  conselhos”  não  resvale  no  moralismo  de  apontar  o  ‘certo’  e  o  ‘errado’? Discutir  identidade  é  nossa  tarefa.  Identidade  não  implica  em  “essencialismo”,  a  existência  de uma essência.  ‘O gaúcho é isso’! Menos, menos...  Ao mesmo tempo evitar cair na armadilha de buscar  a  norma,  o  normal,  o  ideal(izado).  Lembro  da  ironia  de  Borges  (p.  122,  2007):  “A realidade não tem a menor obrigação de ser interessante”.  E, no  geral,  até dolorosa é. “não se preocupe com os horrores que  eu lhe digo, porque ao vivo, meu  amigo, a vida é muito pior” cantava o grande Belchior.

4.  “O  como  ensinar  implica  em  estabelecermos  que  atitudes  gostaríamos  de  vê-los tomando diante da vida, o que dependerá de nossas atitudes dentro e fora da sala de aula (...). Assim, o uso desse ou daquele procedimento em sala de aula  implica em compartilhar com os outros o que nós somos. Estamos ali inteiramente com nossa história de vida, nossas angústias, nossas opções sexuais e religiosas. E se nos dermos conta disso podemos ver os estudantes como parte  da  nossa  vida,  companheiros  de  trabalho,  pessoas  com  as  quais  compartilhamos sentimentos. Ou vê-los como objetos que manipulamos”. (30)
5. “Convivem na mesma cidade, a feira de domingo em que galinhas são pesadas à mão, os supermercados que têm fibra de leitura ótica, os camelôs que andam de porte em porta e os produtos que podemos adquirir pelo correio. Em uma diversidade assim, pensar o espaço tornou a tarefa complexa aos professores de geografia; mas, de certa forma, acabou com a ideia de que o espaço geográfico é uma coisa fixa,  morta, petrificada. É preciso saber, por exemplo, por que na mesma feira se oferecem miçangas paraguaias e comida local, de onde vêm as mercadorias, como os novos hábitos mudaram a paisagem da cidade, qual a relação dos mais novos com o lugar em que  eles  nasceram  e  crescem,  como  convivem  o  menino  de  recado  e  o  aficçionado  em  jogos eletrônicos, o seu Zé da bodega da esquina e o grande supermercado, (...) Só compreendendo essa dinâmica espacial é possível exercitar a cidadania, ao relacionar lugares e fenômenos, paisagens e pessoas, processos sociais e transformações naturais”. (48-9)
6. “O mapa brinca com o nosso desconhecimento do planeta” (57). Genial! Uma dica simples, mas eficaz: levem o globo para a sala de aula. Deixem ele correr nas mãos dos alunos. Ele anda sumido das aulas. Junto com ele coloque alguma pergunta,  de caráter mais  pessoal,  no  quadro  (há  tantas  a  fazer!):  que  lugar  você  gostaria  de  conhecer?  Qual  a sensação de ter o globo nas mãos? Você vai perceber que ninguém fica indiferente ao globo, seja um aluno adulto ou criança, de EJA ou de Pós-graduação! 
7.  O  texto  “Sentidos”  (p.  67)  também  é  ...  lindo.  Os  cheiros  da  infância  trazem  tantas lembranças! “A epiderme lê o universo nos dias em que deixo o interior da casa e caio no mundo (...) em minha boca – com o sabor das frutas - posso nomear o gosto dos lugares (...) Essas coisas todas  que  mexem  com  meus  sentidos  se  misturam  quando  entro  em  contato  com  o  mundo, estabelecem códigos de afetividade, desenham seus traços sensoriais dentro de mim. A isso tudo posso denominar de paisagem”. (69)

“E os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos. E com as mãos e os pés. E com o nariz e a boca. 
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la. E comer um fruto é saber-lhe o sentido. Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto, E me deito ao comprido na erva, E fecho os olhos quentes, Sinto todo meu corpo deitada na realidade, 
Sei a verdade e sou feliz.” (Pessoa, Guardador de Rebanhos, poema IX)

Pessoa nos propõe o  ‘sensacionismo’, isto é, sentir a natureza, pensar a natureza, olhar a natureza numa tríade dialética irresolvível porque tensiona razão e emoção: olhar-pensar-sentir. Não é um ou outro, geografia física ou geografia humana. É geografia. 
O cheiro do café lhe faz lembrar o que? O barulho de um sino te leva pra onde? 
A  associação  paisagens  com  as  sensações,  os  sentidos  que  nos  levam  aos  afetos,  aos gostos  e dissabores.  O  cheiro  do  café  lhe  faz  lembrar  o  que?  Recorde-se  de  alguma  situação vivida,  na infância,  com  algum  avô!  Para  que  lugares  você  foi  com  estas  lembranças?  Que reflexões sobre o espaço e a sociedade nos podemos fazer a partir destas lembranças?

8.  “Claro  também  está  que  se  nunca  escrevemos  nada,  nós  que  fomos  à  escola  para aprender a ler e  escrever, isso  é, no mínimo, preocupante. Escrever como  quem sente a palavra ventania  como  a  véspera  de  um  furacão  (...).  Sentir  e  escrever,  pois,  são  coisas  que  deveriam andar de braços dados para quem foi à escola. E fico imaginando que aventuras maravilhosas não perdem aqueles que deixam de escrever o que sentem” (78-9). 

Dizer  a  sua  palavra  é  uma  forma  de  grafar  a  Terra.  É  ato  de  cidadania  para  nós professores,  e faz lembrar como recordação quente e gostosa,  o mestre Paulo Freire. Mas, essa janela não  vou abrir agora, senão me perco ‘demasiado demais’. Ah, como é bom perder-se com e no mestre Freire....

9. “Queria mostrar que a escola pode ser diferente e a geografia, ao invés de tétrica, pode ser  poética.  Ilustrar  a  disciplina  para  fazê-la  desencantar  os  homens  dos  seus  medos  de  voar”. (93)

10.  “Um  tema  (tarefa)  deve  ser  capaz  de  suscitar  debates,  levantar  questões,  despertar preocupações,  recuperar  a  tradição  e  vislumbrar  o  futuro.  Pode  ser  qualquer  coisa  assim  que aparentemente é coisa alguma” (98). Um tema é a ponta de um novelo ....

Isso não implica o ‘tudo vale’ discutir em nome da geografia. Não temos compromisso em sermos uma ‘revista de variedades’ que de tudo fala. Somos preocupados com as coisas nos seus lugares. Uma ciência ‘da ordem’; onde estão as coisas e pessoas. Onde e por que aí?! Há certos consensos. Que bom. Cavalcanti (2009, p. 136) é clara: 

“Quando ocorre algo, quando há um fato ou fenômeno relatado, quando se quer  entendê-lo  em  sua  dimensão  espacial,  um  primeiro  questionamento  que  se faz,  ao  se  buscar  raciocinar  geograficamente,  é  a  respeito  da  localização  desse fenômenos, fato, acontecimento. “Aonde?”. Essa é uma questão que nos remete à localização  das  coisas”.  “E  isso  implica,  em  responder,  às  perguntas:  onde?  Por que aí?” (p. 137)

Já que o decálogo não pode ter onze, doze pontos vou começando a terminar


Como não devo me estender  ‘demasiado demais’ peço a você leitor que busque a leitura pausada e atenta do Manoel. Vá na (boa) fonte para saciar a sede direi eu. Antes, uma  colheirada a mais de Morin:

“A sala de aula deve ser um local de aprendizagem do debate argumentado, das  regras necessárias à discussão, da tomada de consciência e da  compreensão do outro, da escuta e do respeito às minorias ...” (Morin, p. 112)

“Durante algum tempo pensei que a atitude mais correta para um professor seria a de permanentemente
oferecer chaves para cadeados, receitas para comidas saborosas, novelos para os outros se guiarem nos labirintos, lampiões para as salas escuras.  Cansado  dessa  verdade  pouco  lúdica  e  para  mim enfadonha, resolvi oferecer o oposto: cadeados ao invés de chaves, comidas sem receitas, labirintos no lugar de novelos, sombras no interior da luz” (101-102)

Se buscarmos – conseguir seria fantástico - conciliar Morin (debate organizado das ideias, compreensão do outro, pensar o mundo na sua complexidade) com algo  do decálogo manuelino ... já teremos um projeto de educação e geografia para muitos anos. As respostas são provisórias, mas  tenho  convicção  que  mais  importante  do  que  recursos  tecnológicos  de  ponta,  uma  boa docência  requer  perguntas  e  temas  instigantes  aos  alunos,  além  da  crença  de  que  eles  sejam pessoas ouvidas de forma interessadamente por nós. Buscar  a geografia como pretexto para discutirmos quem somos – eu, tu, nós – e que sociedade temos (“Aprender algo sobre el espacio implica aprender algo sobre nosotros mismos”, Sepúlveda, p. 86, 2009). Perceber quão frágeis somos, quanto precisamos humanizar a Terra com uma espacialidade mais justa e  fraterna  que permita aos  estratos mais deserdados não só saciarem a fome de pão, mas também de poesia e fantasia.
Caminhantes, os caminhos são muitos, as certezas poucas. Eu vou por aqui! Quem está a fim de vir comigo?
Porto Alegre, 1/10/09
BORGES,  Jorge  Luis.  “A  morte  e  a  bússola”.  In:  Ficções.  São  Paulo:  Companhia  das  Letras, 
2007. 

CAVALCANTI,  Lana  de  Souza.  “A  educação  geográfica  e  a  formação  de  conceitos:  a 
importância  do  lugar  no  ensino  de  geografia”  (p.135-  151).  In:  La  espesura  del  lugar: 
reflexiones sobre  el espacio em el mundo educativo. GARRIDO, Marcelo P. (org.). Santiago 
(Chile): Universidad Academia de Humanismo Cristiano, 2009.
HOMERO. Odisséia. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2002.
KAERCHER, Nestor  André.  “A  geografia  escolar:  gigante de pés de barro comendo pastel de 
vento  num  fast  food?”  (p.  27-44).  Revista  Terra  Livre,  n.28  (Geografia  e  Ensino),  AGB 
Nacional, abril 2008. 
__________ . “Ler e escrever a geografia para dizer a sua palavra e construir o seu espaço” (p.75 
–  87).  In:  Ler e  escrever: compromisso de todas as áreas. 8ª Ed. NEVES,  Iara et al (orgs.). 
Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2007.
__________ e SCHÄFFER, Neiva. “Leituras, escritas e falas para que a docência em Geografia 
faça diferença para nossos alunos” (p.149  –  162). In:  Ler e escrever: compromisso no Ensino 
Médio. PEREIRA, Nilton et al (orgs.). Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2008.
___________  .  A  geografia  escolar  na  prática  docente:  a  utopia  e  os  obstáculos 
epistemológicos  da  geografia  crítica.  São  Paulo:  USP/FFLCH,  2004.  (Tese  de  Doutorado). 
(Disponível in: www.teses.usp.br e/ou www.lume.ufrgs.br )
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro.  10ª ed, São Paulo: Cortez 
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PESSOA, Fernando. Cancioneiro. Org. Jane Tutikian. Porto Alegre, RS: L&PM, 2007.
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Enviado 29/3/10 

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