ATRATIVO TURÍSTICO E CENTRALIDADE CULTURAL: A TERRITORIALIDADE DA AVENIDA PAULISTA
Eduardo Baider Stefani
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências HumanasUniversidade de São Paulobaider@usp.br
Viviane Veiga ShibakiFaculdade de Filosofia, Letras e Ciências HumanasUniversidade de São Paulovvshibaki@usp.br
A Avenida Paulista é um dos cartões-postais mais conhecidos de São Paulo, possuindo uma história intimamente ligada com a evolução das funções da cidade, ilustrando, em muitos momentos, a própria dinâmica espacial da metrópole paulistana. Inúmeros estudos[1] narraram, com êxito, o seu desenrolar histórico-espacial, suas alterações funcionais e qualitativas, as transfigurações de seus papéis de centralidade, isto é, seu surgimento como local planejado de moradia para a uma elite oligárquica, a importância como via de circulação de automóveis, a chegada maciça das representações do capital financeiro.
Não obstante, em tempos recentes, um aspecto que se mostra saliente na análise das características sócio-espaciais do objeto, diz respeito à incorporação de uma faceta cultural, caracterizada pela criação de espaços e centros de exposições, cinemas de arte, livrarias, que se soma à sua faceta simbólica, tornada célebre pela realização de grandes eventos e pela divulgação amplamente disseminada de sua imagem. É justamente a nova faceta cultural que o presente artigo busca explorar, correlacionando-a, enquanto processo, a dois elementos: um de causa, composto pelas territorialidades que conformaram-na tal como se apresenta atualmente, e outro de conseqüência, substanciado pela atração turística que hoje a Avenida Paulista exerce.
A Avenida Paulista constitui um complexo objeto de estudo, qualquer que seja a problemática adotada, na medida em que apresenta inúmeros significados simultâneos de variados tipos e escalas, temporais e espacialmente. É, nesse sentido, um excelente mote para o trato do tema das territorialidades, concepção de análise que vêm implementando o debate em torno dos espaços sociais apropriados em torno de variados poderes e ações, especialmente em ambientes urbanos. Mais do que isso, no entanto, a Avenida Paulista ilustra como os processos de geração de territorialidades, a partir das condutas de variados agentes, redundam na criação de centralidades, e como as atrações de tais centralidades, por vezes, ultrapassam as fronteiras da própria cidade, gerando real e expressivo interesse turístico.
A criação de territorialidades
Pode-se afirmar que a abordagem clássica do território, bem como as suas chamadas oriundas do senso-comum e de informes midiáticos, remete-nos a uma concepção já há muito arraigada. Tal concepção é aquela que aborda o território como "área de um país, província, cidade, etc...", ou como "área de uma jurisdição", e que entende a territorialidade como "condição do que faz parte do território de um estado”. A concepção clássica do território, como esclarece Santos (1998), é herdada da modernidade e "seu legado de conceitos puros", que permanecem por séculos sem crítica ou reflexão a si próprios. Para o autor, a imagem abstrata que temos quando pensamos no território não é, certamente, a adequada, uma vez que é o uso do território quem lhe fornece sua significância social, e não a categoria per se. Em tempos passados, era apenas o Estado o responsável pela criação de territórios.
No entanto, a partir da contemporaneidade, período em que novos atores – além do estado – atribuem ao espaço um significado social, apropriando-o e exercendo sobre ele algum tipo de poder ou ação, esse conceito teve de ser revisto, dando origem à idéia de territorialidade. Como ressalta Damiani (2002), a produção acadêmica em anos recentes, fez com que fossem reconhecidos outros instrumentos de territorialização, como organizações e instituições, comportamentos e preferências. O reconhecimento destes novos instrumentos fez com que o enfoque fosse ampliado e complexificado, retirando do estado o "monopólio" de criação ou construção de territorialidades.
Ainda que uma possível diferenciação entre território e territorialidade não se demonstre claramente nas definições e conceituações de vários autores, é válido realizá-la, ainda que sucintamente. Nesse sentido há Correa (1999, p. 234), que procura realizar este esforço, distanciando-se da simplificação um tanto quanto óbvia (e tentadora) de afirmar que o território é o conceito abstrato, e a territorialidade sua expressão espacial. Para este autor, o território, na verdade, é o "espaço revestido da dimensão política, afetiva ou ambas", e a territorialidade é o "conjunto de práticas e suas expressões materiais e simbólicas capazes de garantirem a apropriação e a permanência de um dado território por um determinado agente social, o Estado, os diferentes grupos sociais e as empresas".
Claval (1999, p. 79-80), também interpretou a reinvenção do território como categoria de análise. Para ele, foi o território que permitiu, à geografia, ultrapassar a análise do espaço como “simples extensão geométrica”. O território, expresso na territorialidade, dinamizou a análise espacial, ao dar luz às “apostas entre poderes, disputado, apropriado, ameaçado, povoado, explorado”. Para Claval, a territorialidade apresenta 3 facetas: a natural, sociopolitica e a cultural, que abriga a “carga simbólica” que faz com que os indivíduos produzam suas identidades.
Um dos densificadores da discussão sobre a territorialidade no cenário acadêmico brasileiro, e que proporcionou grande visibilidade a esta categoria de análise, Costa (2004) analisa que qualquer tipo de territorialidade pode se aproximar, dependendo de sua essência, de três vertentes básicas: 1) jurídico-política, segundo a qual “o território é visto como um espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce um determinado poder, especialmente o de caráter estatal”; 2) cultural(ista), que “prioriza dimensões simbólicas e mais subjetivas, o território visto fundamentalmente como produto da apropriação feita através do imaginário e/ou identidade social sobre o espaço”: 3) econômica, “que destaca a desterritorialização em sua perspectiva material, como produto espacial do embate entre classes sociais e da relação capital-trabalho”.
Multiterritorialidades e centralidade: A Avenida Paulista apresentada
Costa (2004) considerou, levando em conta sua tríplice conceituação para as territorialidades, a existência de multiterritorialidades ou rede de territorialidades, isto é, justaposições de territorialidades distintas, que convivem sob um mesmo substrato físico. Reconhecer uma multiterritorialidade significa analisar que uma mesma área pode ser ocupada por um tipo de atividade específica ao dia, e por outra à noite, ou mesmo que múltiplas e heterogêneas atividades podem acontecer no mesmo espaço, no mesmo local.
A sobreposição de significados e apropriações espaciais distintas, num mesmo local, quer com intervalos temporais, quer ao mesmo tempo, remete-nos ao conceito de heterotopia, desenvolvido por Foucault. Para ele (apud Soja, 1993, p.28), heterotopias são “espaços singulares encontrados em determinados espaços sociais, cujas funções são diferentes ou até opostas a outras”. Conforme afirma Soja (1993, p.25), a heterotopia de Foucault nos leva a compreender o significado de “espaços heterogêneos de localizações e relações”.
De alguma forma, é isto que problematiza Limena (1996, p.12), quando coloca que a Avenida Paulista "é a São Paulo do capital financeiro, dos grandes bancos, cinemas, lojas e shopping-centers, exposições de arte, centros culturais, escolas, restaurantes, hospitais". Todos esses elementos engendram, como bem lembra a autora, o estatuto que a avenida recebeu em 1991, em campanha publicitária realizada por alguns veículos de comunicação: o símbolo de São Paulo.
A Avenida Paulista parece ser, assim, num locus relativamente bem definido, a multiterritorialidade de que nos fala Costa (2004), ou a heterotopia de Foucault: a avenida sedia, entre outras, as territorialidades de escritórios de advocacia, seus funcionários e clientes, as territorialidades das sedes de instituições financeiras, seus funcionários e clientes, as territorialidades de órgãos de governo, seus funcionários e clientes, e também as territorialidades dos equipamentos culturais da avenida e seus utilizadores, todas estas concomitantes no tempo e no espaço.
Nesse sentido, a múltipla e heterogênea Avenida Paulista constitui-se, antes de qualquer coisa, como uma centralidade. A rigor, a centralidade que a Avenida Paulista constitui pode ser explicada pela própria idéia de centro urbano, nos moldes definidos por Ascher (2001, p.63). Para a autora, numa cidade clássica, era no centro “que se agrupavam as atividades que precisavam de maior acessibilidade”. Na metrópole, o centro continua a existir, com um número maior de atividades, cada vez mais especializadas e complexas, implicando também num “adensamento” espacial que dá dinamismo à sua tradicional multifuncionalidade.
A Avenida Paulista, interpretada enquanto múltipla centralidade, também encontra subsídio teórico a partir das idéias de Spósito (1991, p. 6). Para a autora, “o centro não está necessariamente no centro geográfico, e nem sempre ocupa o sítio histórico onde esta cidade se originou”. O centro, para ela, é antes o “ponto de convergência/divergência, o nó do sistema de circulação, é o lugar para onde todos se dirigem para algumas atividades”. A Avenida Paulista, desta forma, constitui um centro, ou melhor, pelo menos dois centros, um de ordem econômica e outro de ordem cultural, que atraem fluxos e fixos de interesses e características distintos, materializados, contudo, num mesmo espaço físico, dotado da mesma infra-estrutura.
Dizer que a Avenida Paulista, ao concretizar, espacial e socialmente, algumas atividades e ações que torna possível identificar algumas formas de apropriação do espaço, isto é, algumas territorialidades e que, a partir destas, ela nucleariza centralidades, é reafirmar, em outros tons, a polissemia que faz dessa área um ícone paulistano. Para Shibaki (2007), o papel de múltipla centralidade (e territorialidade) da Avenida Paulista é causa e conseqüência espacial e social da conjuntura espacial existente, resultado de um processo de valorização funcional, associado, intrinsecamente, com o caráter imagético que a Avenida possui na e para a metrópole paulistana, ou como nomeia a autora, "ícone".
A construção de um ícone demanda, pois, elementos de variados significados, alcançados, no mais das vezes, por processos de desenvolvimento. componente simbólico e imagético, que lhe permita estar presente no imaginário dos paulistanos, tal como a Avenida Paulista está, em decorrência de festas e manifestações populares que lá acontecem: "Há uma certa atmosfera urbana, um conjunto de sensações e referências espaciais, arquitetônicas e temporais que resultam da convergência ou da polarização de valores éticos, estéticos e culturais, dos quais emerge o significado da Avenida e da cidade, conferindo, a cada usuário, um modo de vivê-la, percebê-la e imaginá-la" (Limena, 1996, p.13).
Estes fatores agiram para a construção da Avenida Paulista, tal como ela se apresenta na atualidade. Para além da sua estruturação física, as centralidades que a Avenida Paulista emana, quer em seu passado, quer na sua contemporaneidade, agiram para a formação de uma "consciência" desse espaço que, permeado pela mescla de qualidades que lhe conferem uma posição de destaque em circuitos econômicos/bancários e culturais, conferem-lhe um caráter singularmente imagético.
Centralidade Cultural da Avenida Paulista
A afirmação da existência de uma função cultural sediada pela Avenida Paulista se baseia sobre um processo que tem seus afloramentos mais visíveis a partir da década de 1990. No entanto, já há muito, mais precisamente desde 1968, a avenida começava a consolidar sua função de lazer, com a transferência do Museu de Arte de São Paulo (MASP) – desde então a instituição cultural que abrange o acervo mais precioso de uma instituição de arte da América Latina – do centro para a Paulista, como nos lembra Reis Filho (1994). Como coloca Frugoli Jr. (1998), a implementação do MASP marcou, simbólica e materialmente, a passagem do pólo cultural do centro histórico para a Paulista. Cabe dizer que esse processo é extremamente significativo, uma vez que antecipou a grande migração de empresas e sedes de bancos para esta região, processo que aconteceria principalmente na década de 1970.
Irmanou-se ao MASP, o centro cultural da Fundação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), contendo teatro, espaço para exposições, salas de apresentações e outros espaços culturais, inaugurado em 1965. Depois de um hiato temporal, representado pela inserção de elementos de territorialidade e centralidade do capital financeiro, durante a década de 90 a avenida receberia pelo menos mais 2 importantes equipamentos culturais: o centro cultural do Banco do Itaú e a Casa das Rosas. O primeiro, inaugurado em 1995, contém espaço para exposições, acervo de músicas e filmes interativos. O segundo equipamento foi inaugurado em 1991, com a reforma de um dos últimos casarões da avenida, transformado pelo governo do estado de São Paulo em espaço cultural, abrangendo exposições e, mais recentemente, abrigando peças de teatro e esquetes, além de uma biblioteca de poesias (Frúgoli Jr., 1998)[2]. Estes espaços sediam exposições temporárias, e auxiliam a formar o público freqüentador da avenida e suas imediações.
Além dos espaços culturais e de exposição, a Avenida Paulista, tal como ressalta Stefani (2007), constitui o maior pólo, ou territorialidade, de cinemas de arte da América Latina. Como o autor destaca, numa área com extensão pouco maior de três quilômetros, congregam-se 20 salas de exibição e 3945 poltronas de cinema[3]. Corroboram essa constatação Conti (2004, p.44), quando afirma que há "uma enorme concentração de salas de cinema", fato que "confirma a tendência da Avenida Paulista concentrar opções culturais, e sua condição de permanência de vitalidade com a instalação de espaços renovados", Santoro (2004), que lembra que a área da Avenida Paulista vai abrigar uma "nova centralidade" de cinemas de arte, em contraponto às salas outrora existentes no centro histórico de São Paulo, e Almeida (2000, pp. 182-187), que salienta que a região da Avenida Paulista concentra muitos cinemas, que aparecem para os entrevistados com que ela conversou como "cinemas de arte, voltados para uma programação de melhor qualidade". A territorialidade de cinemas de arte na Avenida Paulista é ainda reforçada quando na realização anual da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o maior evento exibidor cinematográfico brasileiro, que firma sua sede no Conjunto Nacional, em plena avenida.
Para além dos museus, espaços culturais, cinemas de programação de arte, a Avenida Paulista ainda apresenta pelo menos outros dois elementos propulsores de territorialidades e centralidades culturais: grandes livrarias e feiras de artesanato e antiguidade. Desde a criação da Livraria Cultura, em 1947, a Avenida Paulista vêm implementando-se como lócus das maiores e mais importantes livrarias da metrópole paulistana[4]. Além disso, a Avenida Paulista sedia, aos domingos, uma feira de artesanato ao lado do Parque Trianon e uma conhecida feira de antiguidades, realizada no vão livre do Masp, responsáveis pela atração de muitos visitantes.
Assim, a construção destes equipamentos permite afirmar a existência de uma centralidade cultural[5]. Outrossim, não se afirma que tal centralidade cultural seja a única deste tipo presente na cidade de São Paulo: o centro histórico (centros culturais, museus e espaços para exposições) e a região dos Jardins e do Itaim (salas de exposições, museus e casas de cultura) também se apresentam como núcleos congregadores de equipamentos e, obviamente, fluxos de público. Afirma-se, pois, que constitui uma centralidade cultural das mais relevantes da metrópole, capaz de atrair público além do residente, isto é, apresenta-se como foco real e pujante de atração turística.
Shibaki (2007, p.115), ressalta a faceta cultural da Avenida Paulista, e procura identificar alguns dos fatores que concorreram (e ainda concorrem) para a atribuição deste papel a esta área da cidade. Para ela, a localização (espigão central de São Paulo), o prestígio (mesmo com inúmeras transformações, manteve seu status), a acessibilidade (bondes, ônibus, várias faixas para automóveis e, depois, com o metrô), a simbologia (relacionada com a identificação visual), a visibilidade (por ser sede de várias emissoras, tudo que acontece é noticiado em tempo real) e as âncoras culturais (importantes centros culturais, como o MASP), são elementos indispensáveis na compreensão das funções que a Paulista desenvolve, especialmente aquela de referência popular da metrópole.
Meyer (2001) salienta a importância desta função para a vivência da própria avenida. Ele afirma que, "na medida em que o espaço tem reforçado seu papel de pólo cultural (...), fica afastado o perigo de uma desqualificação desta região". Ele vai mais adiante, lembrando que a manutenção da qualificação cultural da avenida forma a sua centralidade, a partir de múltiplos e heterogêneos freqüentadores, que fazem da avenida seu "lócus do lazer e da arte como experiência e manifestação coletiva".
Alguns fatores podem ser tomados para a construção de uma explicação causal desta centralidade. Primeiramente, como bem coloca Scarlato (2004), a demanda colocada pelo automóvel, principalmente quando este se tornou um elemento massivo na cidade de São Paulo, o que ocorreu nas décadas de 60 e 70. O centro histórico, então tradicional pólo de atrações culturais, não possuía estrutura para comportar automóveis. Como afirma o autor, a demanda pela existência de uma malha de ruas e estacionamentos que permitissem o acesso aos edifícios por meio do automóvel foi um dos principais fatores da migração de parte dos equipamentos culturais para a região da Avenida Paulista. Em segundo lugar, o acesso facilitado a partir do implemento do metrô, o que ocorreu na década de 90, e também por meio de diversas linhas de ônibus urbano, que atravessam a avenida, ou percorrem seu trajeto, pode ser considerado um importante fator que levou, senão à construção, pelo menos à manutenção desta centralidade de lazer cultural. Em terceiro lugar, a relação entre a desvalorização (econômica e funcional) do centro histórico, e a valorização da região da Avenida Paulista. Scarlato (2004, p.56) nos lembra que, para o capital imobiliário, é mais vantajoso construir o novo do que reformar o que já existe e, também por isso, o centro histórico "foi se tornando símbolo do 'arcaico', 'velho' (...), uma forma preconceituosa de se qualificar este espaço pelo fato que as funções nobres migraram para a Paulista".
A Centralidade Cultural e a atração turística
Diante dessa centralidade cultural intrínseca, sobretudo por meio de um processo temporal como salientado, a Avenida Paulista, além de ter seu espaço público e privado utilizado para o lazer das pessoas que vivem na metrópole é, também, um dos atrativos turísticos mais divulgados de São Paulo (Shibaki, 2008).
Braga (2007, p.79) deixa clara a definição de atrativo turístico quando diferencia esta categoria dos recursos turísticos, que tem como característica sua potencialidade ainda não despertada: “Atrativo turístico é um elemento que efetivamente recebe visitantes e tem estrutura para propiciar uma experiência turística.”
Esses atrativos estão presentes no bojo de intencionalidades referentes à construção de imagens, das quais Pereira e Spolon (2007) tratam como práticas de consumo de espaços de simulação, sendo que tais imagens são, na maioria dos casos, intensamente reproduzidas por conta dessa atratividade turística.
Assim, apesar de inexistentes pesquisas que mensurem quantitativamente o fluxo turístico especificamente relacionado com os atrativos culturais dispostos em seu espaço, há alguns indicativos que apontam para tal, como os eventos: Corrida Internacional de São Silvestre, Reveillón na Paulista e Parada do Orgulho GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), entre outros, em que, segundo dados da SPTuris (2008), somente a Parada, de acordo com os organizadores do evento, obteve um público de 3 milhões de pessoas, dos quais 94,8 por cento são turistas brasileiros e 5,2 por cento são estrangeiros e, deste montante, 43,6 por cento utilizam hotéis ou flats, com uma média de 3,1 pernoites, ou seja, o turista, tanto brasileiro quanto estrangeiro, permanece na metrópole além do dia do evento, mais dias em que usufrui de outros atrativos: “No que se refere à avaliação específica de itens ligados ao turismo, realizada somente em 2007 e 2008 pela São Paulo Turismo, entre os que mais superaram as expectativas dos visitantes estão compras, gastronomia e atrativos culturais.” (SPTuris, 2008, p.67)
Além disso, outro indicativo da presença de turistas é a grande concentração de empreendimentos hoteleiros na região que, segundo a Associação Paulista Viva (2000) somam 19 flats e 11 hotéis, porém, todos eles situados em seu “perímetro” e não na própria avenida, evento que somente veio a ocorrer recentemente, como aponta Cruz (2007, p.51), que salienta ser emblemático para a atividade turística na Avenida Paulista a grande expansão hoteleira da metrópole que “no início do século XXI já viu a inauguração de dois grandes empreendimentos, sendo um deles um Hotel Íbis (da rede francesa Accor) e um hotel Caesar Business (uma das marcas operadas pelo grupo mexicano Posadas).”
Os eventos de grande porte e os empreendimentos hoteleiros instalados são, incontestavelmente, indícios da atividade turística que, somados à abundância de atrativos culturais configuram um panorama favorável para o turismo de lazer, além dos segmentos de turismo de eventos e negócios, já consolidados na metrópole.
Exemplo disso é o programa intitulado “São Paulo – Fique Mais um Dia” de iniciativa da SPTuris e prefeitura de São Paulo que, desde 2006, com parceria na rede hoteleira e outras atividades correlatas, incentiva uma maior permanência do turista na metrópole, em que a pessoa que estende sua hospedagem para o final de semana ou se hospeda especificamente em finais de semana na metrópole recebe descontos na diária de sua hospedagem apresentando o comprovante de qualquer atividade cultural na qual freqüentou, como cinema e teatro, entre outros. (SPTuris, 2006)
Na publicação específica deste programa há uma sessão dedicada exclusivamente a alguns bairros, com destaque para a Avenida Paulista, Jardins e Consolação, em que se ressalta: As novidades em filmes e espetáculos de São Paulo costumam chegar antes aos pólos culturais da Avenida Paulista, que ficam entre casarões centenários e modernos arranha-céus. As mil opções estão sempre à disposição, mas o público muda conforme o dia. Durante a semana, os engravatados regem o clima de corre-core, mas nos fins de semana a imagem é outra: paulistanos e turistas passeiam tranqüilos em estilo casual. (SPTuris, 2006, p.59)
Desta forma, percebe-se um claro esforço por parte das instituições públicas e privadas relacionadas com a atividade em fomentar o turismo de lazer em que a vertente cultural está inserida, sobretudo diante de pólos com a magnitude da Avenida Paulista.
Considerações Finais
Numa dinâmica em que a necessidade de conquistar novos mercados relacionados ao fluxo de turismo é constante e perante segmentações consolidadas como o turismo de eventos e negócios, a imensa gama de atividades culturais oferecidas em São Paulo, no bojo de territorialidades e centralidades específicas como no caso da Avenida Paulista torna-se objeto de densas reflexões, pois este espaço significativo da metrópole consegue aglutinar, como um verdadeiro ícone, características ímpares que são utilizadas para diferentes fins.
O turismo, como elemento apropriador, usufrui da especificidade dos atrativos e, desta forma, utiliza a seu favor as territorialidades e centralidades culturais da metrópole, inicialmente próprias ao lazer dos seus moradores. Com efeito, a geração e manutenção das características que engendram, num espaço, sua apropriação objetiva (equipamentos e construções com fins parelhos) e subjetiva (afeições e percepções dos indivíduos), proporcionando a criação de territorialidades, não se encerra inocuamente.
Múltiplas e heterogêneas territorialidades existentes num mesmo espaço concorrem, muitas vezes, para a consolidação de um caráter de centralidade num dado espaço, que serve de lócus físico e imagético para uma parcela expressiva de pessoas, não somente aquelas que residem, trabalham ou buscam lazer nessa área.
A Avenida Paulista, marcada pela existência de múltiplas territorialidades, como de cinemas de arte, espaços de exposição e museus, livrarias e, evidentemente, seus freqüentadores, que coexistem num mesmo espaço e num mesmo tempo, expressa-se, hoje, como uma inconteste centralidade cultural, cujo poder de atração extravasa geograficamente seus limites municipais e mesmo metropolitanos.
Quer por sua imagem grandemente difundida, quer pelos seus conhecidos e divulgados equipamentos – ou, provavelmente, devido a uma associação entre ambos –, atrai muitos visitantes a São Paulo, consolidando-se como um dos principais pólos de turismo na metrópole.
Texto na integra: http://www.ub.edu/geocrit/b3w-879.htm
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